28.9.08

jogging (a panaceia) e o conselho

Para a dor de amor faz o mesmo que para a dor-de-burro: corre que isso já passa.

27.9.08

empty parking lot

'empty parking', copyright PDB

25.9.08

no parking anytime (2)

Por vezes é curioso constatar como sinais de trânsito são analogias para regras da própria vida em sociedade. Sem dúvida que há mulheres que são «stops», outras «obrigatórios», outras «perigos diversos». Há também um género muito "independente" que traz em parangonas no meio da testa um no parking anytime. E aqui ficas desde logo avisado: se te encostas, pagas multa.

sinceramente

não sei do que é que estavas à espera. Sobretudo de um blogue que tem como subtítulo uma frase inventada numa noite de neura seguida de outra retirada de um poema do Bukowski, o cínico, céptico, vagabundo e misantropo. Sinceramente não sei do que é que estavas à espera.

24.9.08

no parking anytime

'no parking anytime', copyright PDB

23.9.08

se dessem um fruto

"Frankie comes over to the car, he comes over. He looks at the car like this, he says, 'Fuck the fuckin' car man, the fuckin' car's fucked'." in 'Our Gang', 'Drinking in America'.

Eric Bogosian foi uma descoberta recente. O trabalho de este dramaturgo (e monologuist performer) percorre aquela melancolia associada à resignação de que a vida não nos reservou algo de extraordinário ou formidável e de que não passamos de peões num universo maior definido pela política, os media, uma sociedade alienada e por vezes o acaso. Nos monólogos de Bogosian sente-se aquele carácter tão deliciosamente carveriano de desalento, integrado numa paisagem visual muito forte da cultura pós-moderna norte-americana e dos seus mecanismos sociais. Apetece-me então dizer, e apenas porque ainda tenho a frase do obituário de James Crumley na cabeça, que se Raymond Carver e David Mamet dessem um fruto, esse seria Eric Bogosian.

dica para os gulosos; um três-em-um no LES

Onde saborear um cup-cake, comprar álbuns em segunda-mão e ouvir um som emergente, indie e alternativo ao vivo numa cave em Nova Iorque? A Cake Shop Records, em Ludlow Street, é o local. No Lower East Side.

22.9.08

burned grass

Oceanside, Long Island, copyright PDB

das facadas, emigrações e manifestações

Revendo 'Exit, Voice, and Loyalty', livro e conceito teórico de Albert O. Hirshman, compreendo que eu próprio um dia fui «loyalty», agora sou «exit» e talvez, quem sabe, possa futuramente vir a ser «voice».

21.9.08

mesmo na realidade

Nos obituários do Times deparo-me (no Sábado) com a morte do escritor de crime novels James Crumley, cuja descrição refere, e acho isto soberbo, que se Raymond Chandler e Hunter S. Thompson tivessem dado um fruto, esse seria ele. Ao que parece o escritor tinha duas personagens fundamentais, (Milo e Sughrue), ambas detectives privados de poucos escrúpulos (a escola noir de Chandler) e de muitos maus hábitos (a doutrina de vida de Hunter), tão parecidas na generalidade dos seus caracteres e acções que um dia se viu forçado a distingui-las numa entrevista. Milo’s first impulse is to help you, Sughrue’s is to shoot you in the foot. O texto acrescenta que as suas ficções eram impressionantemente violentas e carregadas de profanação e os seus investigadores privados eram hard-living, womanizing misanthropes. Nunca ouvi melhor expressão: mulherengos misantropos. Sim que existem, digo eu, mesmo na realidade.

pânico, distância, julgamento, resignação

'The Cranes are Flying', de Mikhail Kalatozov The Cranes are Flying', de Mikhail Kalatozov
The Cranes are Flying', de Mikhail Kalatozov The Cranes are Flying', de Mikhail Kalatozov

Segundo Kalatozov e Urusevsky.

20.9.08

love between sexes is a battle

Já vinha no teatro do Strindberg, muito antes de Howard Hawks ou George Cukor fazerem da burguesa Guerra dos Sexos um entretenimento de massas. Mas antes do Strindberg já vinha em Molière; no entanto Molière ainda não era um dos modernos. Muito menos o "mais moderno dos modernos", como cunhou Eugene O'Neill o dramaturgo sueco. A ele voltaremos.

Apenas quando tiver tempo, pois —como sempre— ando em batalha.

pura coincidência

'The Fountainhead', ('Vontade Indómita' na tradução portuguesa), é um filme de King Vidor baseado no livro de Ayn Rand sobre a rebeldia de Howard Roark, um arquitecto radicado em Nova Iorque, contra o establishment da profissão. No final dos créditos aparece o clássico aviso "esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência".

Então é isso, pura coincidência. Escapava-me o termo.

18.9.08

das práticas em Inglaterra

Em 'O Pai', de August Strindberg, há um momento em que o Capitão, numa acção pouco credível num palco de teatro, atira num momento de fúria um candeeiro de mesa à mulher. Acredita-se que para tal cena o dramaturgo sueco se tenha inspirado na própria conduta, o que à luz da sua índole neurótica não seria de todo improvável, mas existe também a possibilidade de ter ouvido tal acto como uma prática em Inglaterra, pois, ao que parece "os ingleses têm o hábito de atirar candeeiros às suas mulheres, coisa que, considerando as mulheres inglesas, não é surpreendente".

Uma evidência moderna em Strindberg recusada ulteriormente pelo pós-moderno Pinter.
Em Pinter cala-se e ouve-se.

a cicatriz interior

'Casa de Lava', de Pedro Costa 'La Cicatrice Interieur', de Philip Garrel

Ouvi "Tourneur", ouvi até "Pasolini", mas o que eu mais ali vi —na vastidão daquela paisagem onírica e surreal— e não ouvi, foi Garrel e 'La Cicatrice Intérieure'.

17.9.08

do universo masculino

'The Last Picture Show', de Peter Bogdanovich

O acrónimo milf pode até ter aparecido com a geração American Pie mas há muito tempo que a «essência» estava no cinema. Lembremo-nos de 'The Graduate', de Mike Nichols, ou do ligeiramente mais recente 'The Last Picture Show' do Peter Bogdanovich. O desejo pelas quarentonas sexys parece ser quasi-eterno no universo masculino. No cinema, como na vida.

globalização

Há Relações Internacionais e há ralações internacionais.
De ambas as artes, a minha é a última das duas.

16.9.08

'casa de lava' na cinemateca de brooklyn

'Casa de Lava', de Pedro Costa

Numa sala com lotação pela metade, Dennis Lim fazia uma tímida e resumida introdução ao body work do cinema de Pedro Costa. Correlacionou 'Casa de Lava' (1994) com os seus filmes posteriores, integrando-o contextualmente neste Robert Flaherty Film Seminar "The Age of Migration", contou algumas curiosidades e mencionou a referência conceptual de 'Walked with a Zombie' de Jacques Tourneur.

Como alguém disse, 'Casa de Lava' é sobre uma mulher que tenta trazer para o mundo dos vivos um morto e que no final da sua jornada descobre que o que trouxe foi um vivo para o mundo dos mortos. O filme conta a história de uma enfermeira que de Lisboa acompanha de volta a Cabo Verde Leão, um operário da construção civil em coma, e encontra, na vastidão da paisagem vulcânica, um desolador mundo de deserção. É um cenário de desilusões e de abandono; físico e espiritual — de um povo em relação ao seu país, de pais em relação a filhos, de homens e mulheres em relação a outros homens e mulheres. Um mundo no qual já não há nada para oferecer excepto apatia e desespero; só a noite e a reunião em redor da música enganam a solidão. O filme é também uma homenagem à força feminina, tanto no carácter rebelde, independente e audaz de Mariana (Inês de Medeiros) como na tenacidade das mulheres locais. Os homens são sombras estáticas, como as rochas da paisagem inerte, que vivem no sonho da partida para Portugal, o ex-colonizador que exerce no imaginário colectivo o fascínio de um futuro promissor. Apenas Mariana sabia que nem isso seria uma verdade.

Belo filme, bela fotografia, bela Inês.

15.9.08

o seu duplo perene



Angie Dickinson, outra vez. Sobretudo porque duas fotos de esta senhora neste blogue são muito poucas. Talvez uma próxima seja a da cena do duche, em "Dressed to Kill' de Brian De Palma do velho ano de 1980, onde Mrs. Dickinson, na altura com 49 anos, já fazia justiça ao ainda por inventar e hiper-moderno conceito milf. Quem diz talvez diz quase de certeza.

14.9.08

dos affairs e dos jogos-de-azar

Os affairs são como um jogo de eleven.
Joga-se a dois, mas também dá para jogar a três.

13.9.08

even in perfect happiness

Por um longo tempo, comenta Foucault, certas formas de melancolia eram consideradas especificamente inglesas. Isto era um facto médico; e uma constante na Literatura. Depois cita Montesquieu, que contrastava o suicídio romano, uma forma de comportamento moral e político, com o suicídio inglês, devendo este necessariamente ser considerado uma doença, "pois os Ingleses suicidam-se mesmo em plena felicidade".

mad love was still more love than madness

'The last form of madness is the madness of desperate passion. Love disappointed in its excess, or more commonly a love undone by the inevitability of death, leads inexorably towards dementia. So long as it had an object, mad love was still more love than madness, but left to its own devices it continues in a delirious void."

'History of Madness', de Michel Foucault.

12.9.08



Vem tudo na página 37.

uma «inofensiva» insanidade mental?

Ainda em 'Letyat Zhuravli' há um momento no qual os pais de Veronika comentam que a filha e o prematuro herói, Boris, estão loucos um pelo outro. É isso que é o amor —diz distraidamente o pai— uma inofensiva insanidade mental.

Ele nunca lera Strindberg ou Foucault.

11.9.08

das grandes duplas



Bergman e Nykvist; Goddard e Coutard; Bardem e Fraile e por último Kalatozov e Urusevsky.
Na imagem, 'Veronika' em 'Letyat Zhuravli' (The Cranes are Flying, 1957), um grande filme de Mikhail Kalatozov com um grande, grande, grande trabalho de câmara de Sergei Urusevsky.

10.9.08

nine eleven de uma casa de dois andares

São nove da noite. Venho até ao quintal comunitário e vejo no lado de Manhattan os focos apontados ao céu a partir do lugar onde um dia estiveram as Twin Towers. A cantora preta da casa da esquerda, para deleite dos vizinhos tolerantes, já se faz ouvir lá de cima na sua hora de ensaio. É jazz vocal a sua paixão, explicou-me ela uma vez enquanto eu apanhava ervas daninhas em tronco nu e de rabo para o ar. Eu disse-lhe que a minha não era jardinagem. Depois disso nunca mais a vi. Outras vizinhas do quintal da esquerda são artistas plásticas. Chamam-se Jen e Jen, soube-o quando se apresentaram num fim-de-semana de Agosto. Perguntaram-me se a plantação de tomate junto ao muro era minha. Achei que estavam só a fazer conversa, quem planta aquilo é o Michael, um tipo de Washington que vive neste prédio há mais de um ano. Respondi-lhes que não, mas de vez em quando eu ou a Danielle, a miúda do segundo piso que vive com um chef, fanamos uns para salada. Depois disso nunca mais as vi. Há ainda, na casa do lado, um advogado do Oregon recém-casado mas que devido a um compromisso profissional teve que vir sozinho dois meses para NY. Comentei-lhe que para mim o casamento era como um mau jogo de póquer: começa bem e no fim acaba-se sem carro ou dinheiro. Depois disso nunca mais o vi. O quintal da direita, por seu turno, está sempre vazio. Mas a avaliar pelo apurado arranjo vegetal a paixão dos donos só poderá ser jardinagem. Não sei, a esses nunca os vi.

Faltam três horas para o 11 de Setembro. Nova Iorque está de luto outra vez.

8.9.08

hiroshima mon amour

'Hiroshima mon amour', magna-obra de Alain Resnais

Ele gostava dela, mas gostava ainda mais dela antes, dos tempos de Nevers quando nem sequer a conhecia. Ou seja, antes de ela perder a inocência e andar de cama com um alemão.

Coisas de homem.

do amor e dos jogos-de-azar

Numa relação a dois ou num jogo de gamão o resultado é o mesmo.
Um acaba primeiro e o outro fica agarrado a contar o que sobra.

5.9.08

casa de lava (1994)

'Casa de Lava', (1994), de Pedro Costa

De amanhã a oito, na BAM Cinematek, em Brooklyn, às 6.50pm. O filme de Pedro Costa com introdução do crítico Dennis Lim. Anunciado com antecedência para não haver esquecimentos; especialmente da minha parte.

"This documentary-inflected, dream-like narrative follows Mariana, a young Portuguese nurse as she accompanies a comatose Cape Verdean migrant construction worker back to his barren, economically depressed island homeland. As she struggles to fit in and piece together the man's elusive history, a larger, shared discourse of displacement surfaces, accompanied by the ghosts of a complex post-colonial history."

4.9.08

l'exil et le royaume



como os desterrados de Camus;
num exílio constante
em qualquer parte
só me resta
o meu reino pessoal.

as horas gastas

Deambulo, é o termo, num dia-a-dia mais ou menos sem sentido na espera que chegue a noite e novidades de trabalho. O final do dia é sinónimo de reencontro; de preenchimento físico e espiritual, se é que isso existe. As horas de luz passam devagar, no estio pacato e morno de Williamsburg. As novidades da Spoonbill & Sugartown e a leitura do jornal ocupam as últimas horas da manhã, numa Bedford Ave vazia e ainda húmida da recente lavagem matutina. Por vezes há praia, nestes dias, com vista para a roda-gigante e para a montanha-russa de madeira, da qual os gritos ocasionais que de lá se escutam marcam mais uma viagem de veraneantes em busca de adrenalina. Na areia compro mangas frescas por 2 dólares cada à vendedora mexicana. Falamos em espanhol; pergunto-lhe pelo neto que costuma andar com ela. Regressou à escola, conta-me, e vejo que o Verão acabou e que o mundo retomou o seu ritmo normal. Os finais de tarde são no cais ao pé da antiga fábrica, a da chaminé de tijolo, ao lado do East River. O sol põe-se atrás de Manhattan, recortando as silhuetas escurecidas da cidade e da ponte num violento fundo cor-de-ferrugem. Acaba-se então a luz e a leitura. Já é noite outra vez.

us open (highlights)



Ana Ivanovic, número 1 do ranking mundial.
Concordo absolutamente.

3.9.08

you know what I mean, right?

Williamsburg Bridge,  copyright PDB Williamsburg Bridge,  copyright PDB

williamsburg, brooklyn, nyc

Geograficamente, Williamsburg está localizado em Brooklyn, ao longo do East River e é delimitado pelas zonas de Bedford-Stuyvesant, a sul, e de Greenpoint, a norte. Este bairro, ao contrário de outras zonas menos cosmopolitas da cidade, mantém-se desde o início do século XX um melting pot de enclaves multiculturais: a sul da Williamsburg Bridge os judeus ortodoxos (neste caso os Hassídicos); a norte os emigrantes polacos e dominicanos; ao centro a comunidade italiana. Contudo, nos últimos anos um novo fluxo tem contribuido para alterar a demografia da zona: a chegada dos hipsters e a explosão de uma nova comunidade artística non-mainstream.

**

Passear por Williamsburg é ter acesso à história e imagética clássica de Nova Iorque eternizada pelo cinema, literatura e fotografia. Na Lee Ave os Hassídicos multiplicam-se nas suas actividades diárias num universo particular. Vestem-se de preto e cinzento, austeros, de cabeça coberta com um yarmulke ou fedora pretos como manda a tradição e usam os característicos payot, os rolos de cabelo que ladeiam o rosto. É esta a Williamsburg de Daniel Fuchs. Ao contrário, a Williamsburg italo-americana é a das padarias e pizarias de bairro, onde à porta se discutem histrionicamente os temas do dia-a-dia. Os homens usam fatos-de-treino, fios de ouro, cabelos com gel e camisolas-de-alças. As personagens dos filmes do Scorsese são — sempre o soube, vejo-o agora — fidedignos retratos dos small time crooks e mafiosos de bairro italiano.

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É ainda em Williamsburg, que está apenas a uma paragem de metro da East Village (basta atravessar o rio), que se tem uma das melhores vistas sobre Manhattan. A zona é também mais calma, relaxada, trendy e menos-turística. Desde sempre que quis experimentar viver em Williamsburg, rejeitando os edifícios altos, o trafégo denso e as ruas impessoais. No fundo sou um provinciano; ou pelo menos sou-o durante o Verão.

2.9.08

sobretudo por dois motivos (2)

'Belle de Jour'

sobretudo por dois motivos

'Les Biches', de Claude Chabrol

Gosto muito do "Les Biches' (1968) do Claude Chabrol sobretudo por dois motivos: o primeiro é por ter mulheres bonitas e o segundo é por ter mulheres bonitas aos beijos na boca a outras mulheres bonitas.

sobretudo por três motivos

Gostei do 'Vicky, Cristina, Barcelona' (2008) do Woody Allen sobretudo por três motivos: a Vicky, a Cristina e Barcelona.