21.2.11

Rita Coolidge e Kris Kristofferson, algures nos 1970's

Já dizia Rimbaud, «O amor deve reinventar-se, nós sabemos».
(Ou qualquer coisa parecida com isto).

silogismo para jorge de sena

Eu sou todos. Todos são nenhum.
Eu sou nenhum.

19.2.11

sena, o deleuziano

«Éramos nós, por sermos sempre outros, outros que não seriam imagens mal interpretadas de nós mesmos, mas outros, os outros que virtualmente eram as janelas que as outras pessoas têm para reconhecer-se, por identificação virtual, umas às outras e a nós. Somos nós, na medida em somos os outros delas. E é isso que nos impede de, sendo nós em nós mesmos, não sermos inteiramente livres. O corpo absoluto não está, todavia, isento de ser destruído. A virtualidade absoluta, com a qual podemos sobreviver nos outros, também não.»
in 'Sinais de Fogo', pag. 373.

Ao longo do romance de Jorge de Sena há uma constante obsessão do narrador sobre o efeito que exercemos uns nos outros —no destino, no carácter ou em ambos—, o reflexo dos outros em nós e, ainda, de que «nós» também somos os «outros». Combinações de tudo o que somos e poderíamos ser num jogo virtual de espelhos, influências e distorções. 'Sinais de Fogo', ou o tal mundo de possibilidades deleuziano.

2.2.11

justino, o queirosiano

O senhor tenente Justino é talvez a personagem mais queirosiana do século XX: do fundo da sua alma republicana à ponta dos boémios e refinados bigodes; enfiados por vezes nos decotes das criadas, por vezes nas mesas de jogo. Encontramo-lo em 'Sinais de Fogo' de Jorge de Sena, quase sempre de cigarrilha e boquilha, ar entendido dos assuntos deste mundo e de outros. Militar de curta carreira e de longo vício, homem de alguma coragem, muita goela e pouca fé. Conhecedor dos prazeres da carne e das fraquezas do Estado. Lunático e lúcido, como convém, e dotado de um pragmatismo de algibeira que a vida lhe deu ao ver-se fugir para a morte. Da crença não faz gala nem repúdio, apenas mostra sensatez. Como ele mesmo diz: vão com Deus e com o diabo, que nunca se sabe quem está por cima. E, segundo o que conta, o tenente Justino só uma vez ficou por baixo.