à porta da minha casa, do outro lado da rua, estava hoje de manhã um homem caído no chão e empapado em sangue.
Gemia; e como um animal ferido tentava violentamente libertar-se de um grupo de transeuntes que o mantinha imobilizado. Não sei porque o faziam, calculo que para o impedir de cometer alguma imprudência; parecia estar em estado de choque, caíra da bicicleta com o rosto no chão. Levantava-se repetidamente, empurrando a todos os que o rodeavam, e voltava a cair. Havia um mar de sangue espalhado: nele, nos transeuntes, no farmacêutico do rés-do-chão, na parede, na papeleira, na calçada; em tudo e em todos. Sangue por toda a parte. A um dado instante liberta-se furiosamente e lança-se rua fora no seu grito de dor. Seguem-no a uma distância segura e todos se desviam do seu caminho. Ele cambaleia, continua a passo incerto e desaparece da minha vista. Fico mais um momento à varanda. A cidade não pára; nem o vaivém de pessoas nela. Quem não viu a cena não compreende o porquê de todo aquele sangue no chão, desviam-se e observam estranhamente a poça; há inclusivamente alguém que olha para cima à procura de algum indício. Oiço a ambulância ao fundo: pára e retoma a marcha minutos depois. Passa então debaixo da minha varanda e pela pequena janela horizontal vejo o homem lá dentro; calmo, salvo.
Chego agora a casa e já não está a poça no chão, nem o sangue na parede, nem na madeira da porta, nem na bata do farmacêutico; como se esse momento não tivesse existido. Ficam apenas estas linhas para contar a história.
Chego agora a casa e já não está a poça no chão, nem o sangue na parede, nem na madeira da porta, nem na bata do farmacêutico; como se esse momento não tivesse existido. Ficam apenas estas linhas para contar a história.
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