ode (em prosa) ao fim
Disse-me na cara que os meus olhos já viram Paixão e Ódio, Gloria e Infortúnio. Que as minhas mãos já tocaram mortos e vivos, que sentiram o peso da terra molhada e a inconsistência da areia do deserto. Que caminhei por pastos secos e terrenos pantanosos. Que me afoguei, que me salvei, que fui Jonas e Judas, que fui todos e nenhum. Disse-me que amei, que rezei, que acreditei; que vi alegria na miséria e decadência na felicidade. E que voei, que ardi, que sobrevivi: sobretudo que sobrevivi. E no fim disse-me que ganhei e perdi mas que a ela nunca a vi. Então eu, como Meursault, uma vez mais fiquei calado. E finalmente sorri.
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