1.9.07

'mon oncle'



'Mon Oncle' (1958), de Jacques Tati, é um caso de sucesso de cinema popular. Projectado ao ar-livre numa praça pública em Évora, (onde o vi há três dias), arranca gargalhadas de uma audiência mais do que heterogénea. A comédia visual de Tati, com os seus gags absurdos, o confronto de personagens pitorescas, a recuperação de imagens associadas à infância de cada um e a figura desengonçada de Monsieur Hulot consegue tocar da mesma forma a jovem turista francesa e o senhor idoso do campo. A mensagem subliminar do filme, que denuncia a febre do pós-guerra francês pelo automatismo do quotidiano, mesmo que supérfluo, e pelo life-style americano, parece não interessar a ninguém.

Talvez por isso 'Playtime' (1967) não tivesse tido à época metade do sucesso de este. É que nele Tati faz do seu estandarte exactamente essa alusão ao imaginário colectivo de uma França do pós-guerra em que, para uma grande percentagem da população, o paradigma de vida é o padrão norte-americano. Mas em 'Playtime' Tati vai mais longe. O filme é, por excelência, a grande crítica visual ao Movimento Moderno na arquitectura. A história e a tradição - ou a marca física delas no território - não são mais do que reflexos fugazes nas fachadas de vidro.