9.9.07

du rififi chez les hommes

Rififi, (1955), de Jules Dassin, é um daqueles filmes que vem devagar mas não tanto para que ao fim de meia-hora não percebamos já que estamos diante de algo especial. O argumento é simples, um clássico do noir: Um ex-condenado, Tony le Stephanois, sai da prisão e é-lhe oferecida, pelos seus antigos companheiros, a oportunidade para um novo assalto. Ele aceita e forma a equipa, elabora o plano, estuda o terreno. Ao mesmo tempo encontra a antiga amante, agora ao lado de um gangster de nome Grutter, e cobra-lhe a sua traição. Entretanto o assalto decorre na perfeição e guardam-se as jóias à espera de vendedor. As complicações começam quando um dos elementos do bando oferece um dos anéis roubados à sua amante e esta o faz chegar aos capangas de Grutter. A ambição faz parte da condição humana e a traição também; a guerra começa.

Em Rififi não há ambiguidades. É daquele tipo de filmes que não se esperam - e muito menos se desejam - como poderia dizer Zizek, leituras intelectualizadas e pseudo-sofisticadas. Todos são maus, embora uns dos maus sejam bons; os nossos, pois tomamos automaticamente partido pelo anti-herói Tony le Stephanois e o seu bando de especialistas, com nomes formidáveis como Jo le Suedois ou Cesar le Milanais (o próprio Dassin). Dos momentos especiais do filme destacam-se: a) a cena do assalto que dura cerca de vinte minutos e não há uma única fala ou qualquer acorde de música, (cinco anos mais tarde Jacques Becker talvez se inspire aqui para a sua fuga em 'Le Trou') e b) a cena final com um Le Stephanois moribundo ao volante de um descapotável.

Para finalizar há que referir a aproximação cinematográfica à Nova Vaga que destaca este filme de Dassin do noir típico de Hollywood. Muitas cenas filmadas em exterior, um elenco desconhecido do grande público, a montagem da cena final. Mas no fundo, naturalmente, continua a ser um noir Noir pelas suas personagens e a visão moralista que o crime não compensa. Em jeito de comparação poderá ser um noir com trinta por cento de Nouvelle Vague, por exemplo, e 'À Bout de Souffle', (1960), de Godard, um Nouvelle Vague com trinta por cento de noir. Talvez a comparação só exista por que vi um e seis horas depois revi o outro, caso contrário poderia nunca tê-los associado. Bem provável; e até porque não interessa para nada.