4.10.07

american landscapes (de holdt a shore, igual a carver)



Ambos percorreram a América nos anos 70. Jacob Holdt, dinamarquês, centrou-se em temas como o racismo, a família e a religião. Stephen Shore, nova-iorquino, preferiu a paisagem (rural e urbana) e os elementos/objectos do quotidiano: de pratos e cinzeiros sujos a retretes em diners bafientos. Apesar das diferentes abordagens os dois trabalhos têm muito em comum: a) um registo real e não um realismo mascarado, também reforçado pelo uso de flash duro b) a ideia de fotografia como um snap-shot instantâneo e autêntico, fazendo uma alusão à explosão da fotografia amadora nos EUA nessa década c) uma crueldade subtil; nas entrelinhas no caso de Shore, mais vincada no caso de Holdt d) o desinteresse pelo equilíbrio clássico (à época) da composição. Tudo isto de um ponto de vista técnico de folhetim.

Mas o consumo obsessivo como catarse involuntária, o álcool como carburante, o desalento generalizado, o abandono do paradigma familiar - no fundo, a lenta degradação do sonho americano - também lá está. No fim, de Holdt a Shore, encontramos a América de Raymond Carver no seu melhor.