11.10.07

fotograma de outono

Desperto tarde, exausto, com o peso da insónia a martelar-me a cabeça. Ao contrário do que escreve Mailer, essa heróica batalha nocturna deixa cadáveres pela manhã; o meu, pelo menos, ou assim me parece. Fora isso o mundo está igual ao que estava ontem. À excepção talvez de uma inglesa persa que ganhou o Nobel por livros que nunca li. Um dia de Outono. Está de praia, penso ao sentir o calor pelas nesgas do estore. Recordo-me então da areia quente e dos amantes enroscados nela sob o sol da Argélia de Camus. Revejo a cena como se para uma polaroid desfocada olhasse. A água azul, ao fundo, contrapõe-se ao bronzeado dos corpos em primeiro plano. A atmosfera está filtrada por algo, pela incidência directa dos raios solares, talvez. Há ausência. Dormência. Há gargalhadas femininas a intercalar o longo silêncio.