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Esta cidade, como é sabido, é multicultural. Dizê-lo é já um chavão; como dizer chavão também é um lugar-comum. Por isso, continuando numa de clichés, posso dizer que os meus múltiplos Eus movimentam-se na metrópole como peixes na água. Enquanto o Eu urbano janta no Mercer Kitchen no Soho o Eu emigrante vai a Newark comer bacalhau assado à marisqueira Saraiva. O Eu cinéfilo perde-se no triângulo definido pelo Film Forum, a Film Society e o IFC e para o Eu arruaceiro há adrenalina suficiente nos bares latinos da Roosevelt Ave em Queens. O Eu solitário partilha o sol de Inverno com os indigentes nos bancos de jardim de Washington Square e o Eu noctívago vai ao Studio B em Williamsburg para assistir a concertos ao vivo. O Eu melancólico sobe ao Harlem para ouvir as histórias de jazz contadas pelo nigeriano Fumi e o Eu viajante percorre Little India, Little Odessa e Korea Town em busca de sabores de outras viagens. O Eu fumador, esse, é o proscrito — e está em toda a parte.
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