29.5.07

a américa de cheever



Jacob Holdt,
United States 1970 - 1975

27.5.07

a day at the park

Na comédia 'Tough Guys' de Jeff Kanew, Burt Lancaster, sentado num banco de jardim, é interpelado por um polícia que o adverte que é proibido vadiar. Ele responde-lhe que vadiar é vaguear sem um propósito; e ele tinha um propósito.
Aparentemente, eu também.

new york, night and day

New York, West and East.

o senhor George Sand



Pelos vistos.

george sand

Na 'Short History of French Literature, de Geoffrey Brereton, fico a saber que George Sand, o escritor, era afinal uma mulher com o nome de Aurore Dupin, feminista, e que revogava a igualdade entre homens e mulheres - não pelas oportunidades profissionais mas sim pela liberdade de experiências emocionais, amorosas e sexuais.
O travestismo, mesmo que literário, continua a enganar muita gente. Ou pelo menos os ignorantes como eu.

24.5.07

metropolitan museum of art, 1st floor, american wing


'George Washington Crossing the Delaware' , 1851
Emanuel Gottlieb Leutze, American, 1816-1868
Oil on Canvas; 3,785 x 6,477 m

smoke, no smoke, don't smoke

O 'Smoke' é um dos clubes de jazz mais afamados da cidade. Tem bons músicos, uma decoração cuidada e acolhedora e uma clientela bem-sucedida. Mas no 'Smoke' não há fumo, o público é educadamente distraído e ausente e o ambiente respira polidez e sofisticação. O trio no palco é conivente com a atmosfera. Falta-lhe garra, sujidade e emoção.
Saio ao fim de meia-hora e subo novamente para o Harlem. O St Nicks Bar é o oposto em tudo.
Aqui sim, há jazz. E fumo também.

of mice and men

No hall principal do Museu de História Natural pode ler-se uma inscrição de Theodore Roosevelt que diz - e traduzo - "é difícil falhar, mas pior é nunca ter tentado".

da (in)sensatez

A ideia de sair por uns meses de Barcelona e vir viver para Nova Iorque foi, à partida, uma decisão pouco sensata para a minha carteira.

Mas a carteira não é tudo na vida.

23.5.07

mr. cheever (3)

John Cheever, enquanto escritor, era um pessimista. Talvez isso se devesse ao facto de ser um observador atento e desapaixonado dos valores estabelecidos. Nas suas personagens há uma luta constante, (mas subtil, quase casual), em fazer prevalecer o sonho americano; em fazer parte dele. O universo dos seus contos contém todos os elementos relativos a esse sonho. Por um lado, do ponto de vista físico, com as casas de jardins de relva e cercas brancas, os bailes de Verão, os vizinhos e a família. E por outro, o das preocupações morais, com os dogmas do puritanismo norte-americano como estandarte camuflado. Mas as suas personagens vivem esse sonho por uma obrigação inconsciente, debilmente disfarçada e intrinsecamente desacreditada. No fundo nenhum deles já acredita, mas ao contrário das personagens de Carver, por exemplo, as de Cheever nunca baixam as mãos.

mr. cheever (2)

Bem vistas as coisas é o pós-Eugene O'Neill e o pré-Raymod Carver. Assim é que é, nada de referências russas à mistura. Embora, admito, a injustiça continue.

mr. cheever



Aquele a quem chamaram um dia 'o Tchekhov dos subúrbios'.
Uma injustiça. (Para ambos).

22.5.07

la modernité

Antoine Compagnon denomina os atacantes da modernidade - Baudelaire (o inventor do termo), Chateubriand e Proust - como antimodernos. Depois aprofunda e explica que na realidade são esses os verdadeiros modernos porque acreditaram veementemente na modernidade, até às entranhas, e um dia deixaram de crer nela, ficando com um latente ódio a si mesmos pelo sentimento inalterável de perda.
Só aqueles que acreditam podem deixar de o fazer e sofrer a desilusão, o caminho do desengano, a escalada do ódio.
Hoje a modernidade continua; e pelos vistos os antimodernos também.

meat packing (2)

Nas centenas de cartazes a anunciarem a exposição 'Bodies' (na qual são apresentados corpos humanos dissecados e conservados) pode ler-se em enormes parangonas e finalizado com um grande ponto de exclamação que o prazo foi alargado por pedido popular.
Comprova-se uma vez mais aquilo que a Revolução Francesa já nos mostrara: o povo é um demente sanguinário.

21.5.07

meatpacking

Não é todos os dias que Nova Iorque tem a Meatpacking Design Week. As galerias do bairro inauguram simultaneamente exposições convidando a um percurso de design entre elas. De design, é verdade, mas também de vinho branco e champanhe.

around the corner

this is harlem

No Harlem não há lojas de design, megastores de delicatessen, mulheres sofisticadas a passearem cães de raça na rua, cabeleireiros a anunciarem penteados excêntricos e vanguardistas nas vitrinas ou painéis em movimento com o ultimo blockbuster. Também não há europeus, loiras ou calçado trendy. No Harlem há lojas de roupa a retalho, restaurantes de frango frito, negras obesas movidas a donuts e grupos de latino-americanos que não querem falar inglês. O Harlem, como o Soho ou a Village, também é genuíno.
Ladies and gentlemen, this is Harlem, onde eu vivo.

17.5.07

coisas práticas

Este ano e tal que tenho estado a viver em Barcelona revelou-se extremamente prático em NY. Toda a manhã em Upper West Side passada entre cafés e imobiliárias e ainda não falei inglês.
O castelhano prevalece na minha vida, é verdade, mas de qualquer forma continua a faltar-me o doce sotaque argentino a que me acostumei nos últimos tempos.

ny, day one

Chegar tarde, muito tarde a Nova Iorque e atravessar a cidade de metro do JFK airport para o Upper West Side. Depois disso a recepção é feita no St. Nicks Bar, um reduto de jazz perdido no meio do Harlem: fumo, cerveja e mais fumo.
Em NY ainda há sítios onde se pode fumar e beber simultaneamente, o que, convenhamos, é importante; sobretudo com um tenor sax a explodir à nossa frente.

16.5.07

hoje, voo bcn-ny

Start spreading the news, I'm leaving today
I want to be a part of it - New York, New York
These vagabond all-stars, are longing to stray
Right through the very heart of it - New York, New York

14.5.07

até um imbecil

'Estava na cama quando ouvi a cancela bater. Escutei com atenção. Não ouvia nada mais. Mas isso sim. Resolvi despertar Cliff. Estava como uma pedra. Assim que me levantei e fui até à janela. Uma grande lua descansava sobre as montanhas que rodeiam a cidade. Era uma lua branca, coberta de cicatrizes. Até um imbecil podia ver um rosto nela.'

Nancy, em 'Via as coisas mais minúsculas', de Raymond Carver.

12.5.07

twice, by train

os velhos nunca se sentem velhos

Em 'O Diário da Guerra aos Porcos', Bioy Casares move-se entre uma ficção plausível, embora atroz - a perseguição assassina dos jovens aos velhos - e uma realidade ilusória, embora compreensível - velhos que são realmente velhos mas que se sentem jovens.

Acabo o livro e engulo em seco. Completei há três dias 31 anos.

8.5.07



Convencer com uma só explicação: Buenos Aires.

no mesmo livro salta-me à vista (muitas páginas depois) a frase

"Uma velha amizade é como uma casa grande e cómoda, na qual uma pessoa se sente à vontade".
Ao ler isto só consigo pensar que se de facto uma velha amizade tiver algo que ver com uma casa grande será mais pelo constante trabalho que dá mantê-la limpa e impoluta (cómoda) do que por outra coisa qualquer.

da razão e da infantilidade

Leio, no 'Diário da Guerra aos Porcos', de Adolfo de Bioy Casares, que "as pessoas afirmam que muitas explicações convencem menos do que uma só, mas a verdade é que há mais de uma razão para quase tudo. Dir-se-ia que se encontram sempre vantagens para prescindir da verdade."
Portanto, quando dizem que a união faz a força talvez até seja verdade, mas não o será aplicado às explicações. Quanto a estas deve agir-se de forma individual, reservada e minimalista; e se chegarmos ao cúmulo do inapelável 'porque sim' como explicação, então nessa altura não há retórica possível que nos toque.

Ficamos com a razão e ganha a infantilidade.

1.5.07

ao volante de óculos escuros, um dia de sol do caraças e master blaster, higher ground e superstition a abrirem caminho entre o asfalto

laicismo (3)

Durante o meu ano de aluno aplicado nas aulas de árabe pós-laborais, o meu exercício favorito em casa era dizer repetidamente a Shahada, ou profissão de fé, que atesta a unicidade de Alá e sua grandeza. Fi-lo sempre atraído pela nostalgia e pelo exotismo da construção fonética, nunca pensei verdadeiramente na dimensão dessas palavras.
Isso - e embora o respeitasse - já não me interessava.

laicismo (2)

Foi a minha avó que me ensinou a persignar-me; muito antes das aulas de catequese para a Primeira Comunhão. Hoje, passados tantos anos e envolto numa aura de ateísmo despreocupado, continuo a fazê-lo sempre que entro numa igreja. Old habits die hard, calculo. Mas quando o faço lembro-me dela, não de Cristo.
Na verdade talvez seja por isso.

evolucionismo



Descubro no desktop do computador do meu irmão, que tem sido através do qual eu vim à net estes dias, uma pasta com fotos de Inès Sastre.
Orgulho-me dele, com apenas dezanove anos e já com tanto bom gosto.

laicismo

Chamam-me à atenção para uma imperdoável falta: em dezasseis metros lineares de prateleiras cheias não há um exemplar da Bíblia.
Tenho 'A Origem das Espécies', respondi; mas perante a cara de sacrilégio anunciado acrescentei que nunca o li.