6.2.08

the Americana (2)

Por coincidência relacionado com o post anterior, leio noite dentro em 'The Ongoing Moment', um ensaio de Geoff Dyer sobre fotografia contemporânea norte-americana, que William Eggleston —a par de Robert Frank, Garry Winogrand e Stephen Shore entre outros— é um dos herdeiros da visão de Walker Evans que alega que tal como há poesia na ignorância pode haver beleza na vulgaridade; visão esta que Evans, apesar do seu requinte irónico, mantinha ainda de uma forma em algo suportada pela Revolução Cultural Americana do século XIX.

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Embora a década de 60 fosse a da explosão da fotografia a cores, Evans continuava a achar que esse método de representação era vazio e banal. Mas se era assim para Evans, não o era para uma nova geração de fotógrafos. E apesar de Frank, como Evans, também fotografar quase sempre a preto e branco, Egglestone e Shore entenderam que era exactamente nessa banalidade que melhor se poderia retratar a América. A América é a cores. Em 1976 Egglestone exibe no MoMA e desde então, como explica Dyer, o seu trabalho serviu de referência para temas muito para além do campo da fotografia: 'Blue Velvet', de David Lynch e 'Elephant', de Gus van Sant são por exemplo, entre outras coisas, dois tributos cinematográficos à estética de Egglestone e Shore. Estética essa que, melhor do que nenhuma outra, reflecte de forma tão fidedigna o amplo espectro da Americana.