25.2.08

as bestas

Afinal ‘Beasts’, de Joyce Carol Oates, não é sobre pesadelos; talvez seja sobre sonhos. É sem dúvida sobre o animalesco que há debaixo da pele de cada um: de Harrow, o académico, de Dorcas, a mulher francesa, e também de Gillian, a narradora, que como todas as demais alunas de Harrow é uma mulher no princípio da idade adulta, fascinada pela força intelectual do jovem professor que declama D.H. Lawrence com a voz rouca, queimada pelo tabaco, e pela beleza sensual e agressiva da sua mulher. Harrow conhece o poder que exerce no meio da comunidade; ao longo dos tempos, com Dorcas, escolhe as suas preferidas para partilhar a cama num jogo a três.

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‘Beasts’ denuncia a subversão de valores naquele que poderia ser o palco do paradigma moral americano, no tradicional ambiente colegial e universitário de uma pequena cidade de província. Explora um conflito de condutas, um ensaio sobre o ciúme e a sedução, a desilusão e o ódio; todos inconscientemente cadenciados pela descoberta de uma sexualidade fora do convencional, ou do moralmente aceitável ao meio. O mundo lá fora não interessa: a guerra do Vietname é um cenário dos outros, dos que estão presos a uma vida sem sentido. Em Catamount os sentimentos são carnais, os desejos proibidos, as relações são jogos e mentiras; e a felicidade, como na 'Metamorfose' de Ovídio, só é possível na condição inumana. Todos somos bestas, pois só na bestialidade encontramos a felicidade.