19.2.08

da aventura

Melville, como Conrad, provoca no leitor (ou em mim) um eterno estado de suspensão. Há uma espera constante pelo resultado de um confronto entre o Homem e forças maiores e incontroláveis; sejam os mares, os ventos, os leviatãs, as superstições. Na atmosfera literária destes dois escritores —que contudo são diferentes— paira um sentimento de ameaça perene envolto numa aura duplamente mística e mítica. Os seus homens, como o Ulisses de Homero, partem numa odisseia, na sua epopeia pessoal; e ulteriormente, de uma forma algo inevitável, são levados a testar o limite das suas capacidades físicas e psicológicas.

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As aventuras dos livros de Melville, como as de Conrad, povoaram uma percentagem do imaginário da minha adolescência. Com a melancolia dos Mares do Sul e as noites estreladas características deste hemisfério; com a solidão dos oceanos e o mistério da escuridão; com o exotismo e a necessidade da descoberta pessoal. Foram sempre, em parte, catalisadores do meu desejo de aventura. Agora, já adulto, continuam a instigar-me, a questionar-me e provocam em mim irremediavelmente o desejo de partir. Para onde seja, de saco às costas; como Ismael a caminho de Nantucket.