4.3.08

dois é uma mera coincidência, três uma confirmação

Borges, cego total de um olho e parcialmente de outro, descreve em 'Siete Noches' os pensamentos acerca da sua nomeação como Director da Biblioteca Nacional (e traduzo):

"Pouco a pouco fui compreendendo a estranha ironia dos acontecimentos. Sempre tinha imaginado o paraíso debaixo de uma biblioteca. Outras pessoas pensam num jardim, outras podem pensar num palácio. Ali estava eu. Era, de algum modo, o centro de novecentos mil volumes em diversos idiomas. Comprovei que apenas podia decifrar as capas e as lombadas. Então escrevi o "Poema de los Dones", que começa: Nadie rebaje a lágrima o reproche / Esta declaración de la maestría / De Dios, que con magnífica ironía / Me dio a la vez los libros y la noche. Imaginei o autor do poema Groussac, porque Groussac também foi director da Biblioteca e cego. Groussac foi mais corajoso do que eu; guardou silêncio. [...] Ignorava por aquela altura que houve outro director da Biblioteca, José Mármol, que também foi cego. Aqui aparece o número três, que fecha o círculo. Dois é uma mera coincidência, três uma confirmação."

**

Para a Charlotte, que aprecia estas coisas e que postou o 'Poema de los Dones' na íntegra há algum tempo.