a midnight valium for a good night sleep
Como Flitcraft, cuja história Hammett conta em 'The Maltese Falcon', também ele um dia quis largar tudo e fugir. Deixou a mulher e o filho com lábio leporino, a sogra surda, os cães, as criadas e os pretos; as armas de caça e as camisas de caqui. Fugiu sem saber do quê, talvez do tamanho do Sol, que ao princípio tanto o seduziu e que acabou por lhe ser tão insuportável como uma amante exigente e gasta. Juntou dois trapos ao cair da noite e saiu a pé, mato fora a rasgar as canelas, avistando ao longe fogueiras e reconhecendo ecos de cânticos tribais. Pensou nas negras no pavilhão de caça, longe dos olhares familiares e dos remorsos conjugais. Às duas e três, de corpos suados enrolados no seu e em como apenas nesses momentos encontrou o que pensou ser felicidade. Enganou-se, talvez, e o vazio fê-lo repetir o acto até à exaustão pois em África o calor e o sexo andam sempre de mãos dadas. Rumou para longe; pensou em Marselha. Nos bares do porto, na frescura da beira-mar, nas americanas, nas viúvas, nos gigolôs, nos paneleiros, nas esplanadas, no Pastis com gelo e no bas-fond povoado pela miséria dos intelectuais de um Maio revoltado lado a lado com a dos marinheiros.
Acabou em Nova Iorque, décadas depois, numas águas furtadas na Village, vivendo como professor de esgrima, amante de uma condessa eslava e contando a sua história a tipos como eu que um dia também pensaram em fugir.
Acabou em Nova Iorque, décadas depois, numas águas furtadas na Village, vivendo como professor de esgrima, amante de uma condessa eslava e contando a sua história a tipos como eu que um dia também pensaram em fugir.
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