26.5.08

104 fahrenheit

A febre traz o delírio nocturno e as memórias confundem-se com os receios. Os fantasmas interiores desfilam ao lado da cama, provocadores, instigadores do remorso na obscura culpa católica e sorriem com malícia relembrando o Inferno de dias esquecidos. Num solitário acto de coragem, débil e fragilizado, arrumado a um canto escuro, combato-os com o último fôlego na noite fria. Quando acabam por cair derrotados esfumam-se nos sonhos; só nesse momento se soltam as lágrimas da sobrevivência, da injustiça aniquilada, do pecado expiado. No entanto, na vingança de Morfeu tudo se mistura por instantes e ameaça explodir, até que o cansaço vence finalmente a vigilância e o sono chega ao Olimpo. Amanhã será outro dia.