99 fahrenheit
Pensava em Conrad; pensava nas personagens de Conrad, reflexos de outros homens e usurpadores imaginários de aventuras reais. Via a imagem da calmaria melancólica do Pacífico, ao longo da linha do Equador tantas vezes por ele descrita e agora inconscientemente gravada na minha memória —na memória das coisas que ainda não vi nem vivi. Pensava nesses homens nos Mares do Sul, encurralados debaixo de um calor seco e sufocante, que devido à ausência de vento talhavam esculturas em madeira para passar o ócio forçado pela inércia. E na loucura que chegava a alguns, depois de tantos dias de espera, desespero e monotonia num mar parado.
Pensava em tudo isso debaixo do mesmo calor seco e sufocante. Procurei a estibordo a sombra da ponte de Brooklyn, ondulante na água escura e suja, e lá fiquei, estático por momentos, sem vento ou motor, suavemente embalado pela ocasional passagem de algum ferry-boat neste Domingo de inferno.
Pensava em tudo isso debaixo do mesmo calor seco e sufocante. Procurei a estibordo a sombra da ponte de Brooklyn, ondulante na água escura e suja, e lá fiquei, estático por momentos, sem vento ou motor, suavemente embalado pela ocasional passagem de algum ferry-boat neste Domingo de inferno.
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