28.6.08

das biografias

Conheci Burton mais tarde, já fora do período da adolescência, e talvez por isso ele não tenha tido o peso de uma referência directa —no que toca aos exemplos de aventureiros reais— que tiveram outros que conheci antes dele nesses breves anos da Segunda Educação Sentimental.

Henry de Monfried, ao contrário de Burton e ao lado de Robert Capa e Hemingway, povoou o meu imaginário de adolescente. As aventuras do francês pelo Mar Vermelho, a bordo (se bem me lembro) de uma chalupa de setenta pés, combinavam todo o exotismo do chamado 'Apelo do Oriente' com a adrenalina das melhores histórias de corsários de Robert Louis Stevenson. Na altura em que o mundo dançava ao som do fox-trot, Monfried percorria a costa do Egipto até à ponta do Corno de África contrabandeando pérolas, haxixe e por vezes armas para os rebeldes do Iémen. À semelhança de Burton e de qualquer outro aventureiro que se preze, Monfried também dominava os dialectos & costumes locais.


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Por tudo isto, quando aos quinze anos fui jogar râguebi a Lyon, aproveitei uma tarde livre para procurar o gabinete de recrutamento da Légion Étrangère na gare da cidade. A Legião Estrangeira, em parte pelos relatos de Lartigue, ocupava de igual modo o meu imaginário dessa parte do Mundo — não em mar, como Monfried, mas por terra — o deserto. Encontrei a placa na parede e dois homens esperavam alinhados ao lado da porta. Não entrei. Anos mais tarde dei por mim nas classes de árabe da mesquita de Lisboa, arrastando as últimas migalhas de um sonho de adolescente.

Nunca, por minha culpa, isto me serviu de muito. Agora, como o Lord Jim do Conrad, procuro inevitavelmente a redenção ao meu acto de cobardia. Embora, por minha culpa também, tal já não sirva de nada.