19.7.08

os dias do china hotel

Ao todo, desde que larguei o apt da Village, foram sete as noites passadas no cubículo 419 de uma lodge em Chinatown. O quarto andar desta pensão não funciona como os restantes três que alugam quartos a chineses no compasso de espera da partida para Boston ou Washington. Este último piso tem as características de uma Komuna. Nos corredores, que pertencem a todos, estende-se a roupa esfregada no lavatório metálico da casa-de-banho comum e lá se deixa a secar inundando o chão de água amarelada; é também onde se deixam os sapatos, os fogões portáteis, os tachos, as panelas e toda uma parafernália inimaginável de objectos. Nos cubículos pouco mais cabe do que uma cama; ou melhor, do que um catre. Uma ventoinha aparafusada à parede, no caso do meu, também cabe. Os anúncios em mandarim estão por todo o lado, tal como os jornais chineses cheios de gordura que servem de guardanapos. A zona de convívio é na plataforma exterior da escada ferrugenta de emergência. Todos ignoramos os sinais de 'proibido fumar'. Os comunitários são homens (e uma mulher) de todas as idades. Nenhum fala inglês; ou pelo menos nenhum fala inglês comigo. O diálogo é inexistente, fazendo com que eu não seja mais do que um exilado no exílio dos outros. Ignoram-me. Rejeitam-me. Não sou um deles.

Noite dentro percorro os corredores, de Hasselblad e fotómetro na mãos, e faço as fotos que hão-de ficar para a Posteridade como a prova destes dias de Purgatório.