do neo-noir (2)
Como o termo indica, há no neo-noir um movimento elíptico que repesca os elementos característicos do film noir: o mundo moralmente decadente do bas-fond; as fragilidades de carácter; a (des)lealdade nas relações humanas; a mensagem de que o crime não compensa. Adicionada a essas características originais está também inerente uma leitura (e adaptação) da contemporaneidade pós-moderna: os novos fluxos nocturnos, as metamorfoses das geografias sociais — "mi barrio ya no existe" — a demografia racial, as tribos urbanas. 'Carlito's Way' (1993) é disso mesmo um extraordinário exemplo.
E se há neste filme de Brian de Palma, com argumento adaptado por David Koepp, uma poderosa identidade neo-noir, há paralelamente uma incursão em territórios de questões metafísicas e filosóficas — abordagens por exemplo tipicamente (mais) reconhecidas a Terrence Malick ou Paul Schrader (como ouvi pessoalmente deste último na BAM cinematek) — que tendem a explorar temas como a redenção pessoal ou a alienação social. O título do filme — Carlito's Way — sugere automaticamente esta dupla convergência: 1) À Maneira de Carlito, o estilo duro de um homem (Al Pacino) que se formou nas ruas suportado pelos seus instintos violentos e de sobrevivência; e 2) O Caminho de Carlito, onde esse mesmo homem, depois de cumprir uma pena de prisão procura a sua redenção e afastamento do mundo do crime aspirando a uma vida normal como vendedor de automóveis no paraíso turístico das Bahamas — "I'll tell you something, car rental guys don't get killed that much."
Nesse caminho da redenção surgem inesperadamente obstáculos incontornáveis que moldam as acções futuras e fazem acordar os instintos primitivos. E é nessa batalha pessoal, entre a lealdade ao código de honra de rua (e ao amigo que esteve lá sempre por ele) e aos novos valores que correspondem à libertação do passé maudite, que Carlito tenta encontrar o rumo certo.
Tal como de Palma, que compreendia os meandros da crítica cinematográfica, previu (e acertou em todos os pontos — cada tiro, cada melro), o filme foi inicial e erradamente apontado como um conjunto de fracassos (entre eles os variados motivos que ele enumera) e como uma tentativa menor de uma sequela ao género 'Scarface', também com Pacino dez antes antes. Só no final dos anos 90 'Carlito's Way' viu reconhecida a importância devida pela crítica (pois sempre a teve do grande público), com a atribuição pelo Cahiers du Cinema de um dos melhores filmes da década.
Esse excelente filme que é 'Carlito’s Way'. É verdade sim senhor.
E se há neste filme de Brian de Palma, com argumento adaptado por David Koepp, uma poderosa identidade neo-noir, há paralelamente uma incursão em territórios de questões metafísicas e filosóficas — abordagens por exemplo tipicamente (mais) reconhecidas a Terrence Malick ou Paul Schrader (como ouvi pessoalmente deste último na BAM cinematek) — que tendem a explorar temas como a redenção pessoal ou a alienação social. O título do filme — Carlito's Way — sugere automaticamente esta dupla convergência: 1) À Maneira de Carlito, o estilo duro de um homem (Al Pacino) que se formou nas ruas suportado pelos seus instintos violentos e de sobrevivência; e 2) O Caminho de Carlito, onde esse mesmo homem, depois de cumprir uma pena de prisão procura a sua redenção e afastamento do mundo do crime aspirando a uma vida normal como vendedor de automóveis no paraíso turístico das Bahamas — "I'll tell you something, car rental guys don't get killed that much."
Nesse caminho da redenção surgem inesperadamente obstáculos incontornáveis que moldam as acções futuras e fazem acordar os instintos primitivos. E é nessa batalha pessoal, entre a lealdade ao código de honra de rua (e ao amigo que esteve lá sempre por ele) e aos novos valores que correspondem à libertação do passé maudite, que Carlito tenta encontrar o rumo certo.
Tal como de Palma, que compreendia os meandros da crítica cinematográfica, previu (e acertou em todos os pontos — cada tiro, cada melro), o filme foi inicial e erradamente apontado como um conjunto de fracassos (entre eles os variados motivos que ele enumera) e como uma tentativa menor de uma sequela ao género 'Scarface', também com Pacino dez antes antes. Só no final dos anos 90 'Carlito's Way' viu reconhecida a importância devida pela crítica (pois sempre a teve do grande público), com a atribuição pelo Cahiers du Cinema de um dos melhores filmes da década.
Esse excelente filme que é 'Carlito’s Way'. É verdade sim senhor.
<< Página inicial