as horas gastas
Deambulo, é o termo, num dia-a-dia mais ou menos sem sentido na espera que chegue a noite e novidades de trabalho. O final do dia é sinónimo de reencontro; de preenchimento físico e espiritual, se é que isso existe. As horas de luz passam devagar, no estio pacato e morno de Williamsburg. As novidades da Spoonbill & Sugartown e a leitura do jornal ocupam as últimas horas da manhã, numa Bedford Ave vazia e ainda húmida da recente lavagem matutina. Por vezes há praia, nestes dias, com vista para a roda-gigante e para a montanha-russa de madeira, da qual os gritos ocasionais que de lá se escutam marcam mais uma viagem de veraneantes em busca de adrenalina. Na areia compro mangas frescas por 2 dólares cada à vendedora mexicana. Falamos em espanhol; pergunto-lhe pelo neto que costuma andar com ela. Regressou à escola, conta-me, e vejo que o Verão acabou e que o mundo retomou o seu ritmo normal. Os finais de tarde são no cais ao pé da antiga fábrica, a da chaminé de tijolo, ao lado do East River. O sol põe-se atrás de Manhattan, recortando as silhuetas escurecidas da cidade e da ponte num violento fundo cor-de-ferrugem. Acaba-se então a luz e a leitura. Já é noite outra vez.
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