'casa de lava' na cinemateca de brooklyn
Numa sala com lotação pela metade, Dennis Lim fazia uma tímida e resumida introdução ao body work do cinema de Pedro Costa. Correlacionou 'Casa de Lava' (1994) com os seus filmes posteriores, integrando-o contextualmente neste Robert Flaherty Film Seminar "The Age of Migration", contou algumas curiosidades e mencionou a referência conceptual de 'Walked with a Zombie' de Jacques Tourneur.
Como alguém disse, 'Casa de Lava' é sobre uma mulher que tenta trazer para o mundo dos vivos um morto e que no final da sua jornada descobre que o que trouxe foi um vivo para o mundo dos mortos. O filme conta a história de uma enfermeira que de Lisboa acompanha de volta a Cabo Verde Leão, um operário da construção civil em coma, e encontra, na vastidão da paisagem vulcânica, um desolador mundo de deserção. É um cenário de desilusões e de abandono; físico e espiritual — de um povo em relação ao seu país, de pais em relação a filhos, de homens e mulheres em relação a outros homens e mulheres. Um mundo no qual já não há nada para oferecer excepto apatia e desespero; só a noite e a reunião em redor da música enganam a solidão. O filme é também uma homenagem à força feminina, tanto no carácter rebelde, independente e audaz de Mariana (Inês de Medeiros) como na tenacidade das mulheres locais. Os homens são sombras estáticas, como as rochas da paisagem inerte, que vivem no sonho da partida para Portugal, o ex-colonizador que exerce no imaginário colectivo o fascínio de um futuro promissor. Apenas Mariana sabia que nem isso seria uma verdade.
Belo filme, bela fotografia, bela Inês.
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