10.9.08

nine eleven de uma casa de dois andares

São nove da noite. Venho até ao quintal comunitário e vejo no lado de Manhattan os focos apontados ao céu a partir do lugar onde um dia estiveram as Twin Towers. A cantora preta da casa da esquerda, para deleite dos vizinhos tolerantes, já se faz ouvir lá de cima na sua hora de ensaio. É jazz vocal a sua paixão, explicou-me ela uma vez enquanto eu apanhava ervas daninhas em tronco nu e de rabo para o ar. Eu disse-lhe que a minha não era jardinagem. Depois disso nunca mais a vi. Outras vizinhas do quintal da esquerda são artistas plásticas. Chamam-se Jen e Jen, soube-o quando se apresentaram num fim-de-semana de Agosto. Perguntaram-me se a plantação de tomate junto ao muro era minha. Achei que estavam só a fazer conversa, quem planta aquilo é o Michael, um tipo de Washington que vive neste prédio há mais de um ano. Respondi-lhes que não, mas de vez em quando eu ou a Danielle, a miúda do segundo piso que vive com um chef, fanamos uns para salada. Depois disso nunca mais as vi. Há ainda, na casa do lado, um advogado do Oregon recém-casado mas que devido a um compromisso profissional teve que vir sozinho dois meses para NY. Comentei-lhe que para mim o casamento era como um mau jogo de póquer: começa bem e no fim acaba-se sem carro ou dinheiro. Depois disso nunca mais o vi. O quintal da direita, por seu turno, está sempre vazio. Mas a avaliar pelo apurado arranjo vegetal a paixão dos donos só poderá ser jardinagem. Não sei, a esses nunca os vi.

Faltam três horas para o 11 de Setembro. Nova Iorque está de luto outra vez.