40 minutos
Hoje o metro L parou. Entre as estações da Segunda Avenida e de Union Square. Parou por 40 minutos, no meio de um túnel escuro. Cheio, à pinha, em hora-de-ponta; com miúdos a caminho da NYU, com white-collars para a conexão de Wall Street, com hipsters a dormir em pé, com mulheres latinas, com mulheres maquilhadas, com ucranianos e comigo no meio de todos a ler o ensaio sobre o 'Homem em Revolta', comprado ontem por $3.99, do Camus. Quando uma senhora teve a primeira quebra de tensão, ia eu na passagem "evil and virtue are mere chance or caprice", ainda na Introdução. Depois lembrei-me da máxima de S. Tomás de Aquino sobre a Virtude também servir maus propósitos, com Acaso ou sem ele, e continuei a leitura confuso. Os minutos passavam devagar e a palavra absurdo pulava em cada linha. Quando outra senhora teve a segunda quebra de tensão da manhã deixei o livro de lado e ajudei-a a sentar-se, num lugar cedido por um halterofilista que devia ter levantado o cu trinta minutos antes. Uns passageiros discutiam ao fundo da carruagem por pisadelas e afins; outros olhavam para o tecto para não gritarem e todos estavam com vontade de andar aos pontapés a tudo. O metro retomou a marcha e eu, um homem em revolta pela perda de tempo, pus o livro de lado ao chegar à rua. Chega de absurdos existencialistas por uma semana, pensei, e fui à pressa comprar o diário sumo de cenoura e beterraba ao deli da esquina com a Dezoito.
Foi aí que fui atropelado. Mas recompus-me num ápice e nem olhei para trás. Um chinês fumador numa bicicleta não faz muita mossa.
Foi aí que fui atropelado. Mas recompus-me num ápice e nem olhei para trás. Um chinês fumador numa bicicleta não faz muita mossa.
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