8.10.08

da psicologia da pequena grande besta

Recordo-me de há uns tempos ter lido umas declarações do Antonioni onde este explicava que o poder dado às suas personagens femininas, (leia-se Monica Vitti), tinha a ver com o facto de ter crescido e passado uma considerável parte da sua vida rodeado de mulheres num universo familiar —a Mãe, as tias, as primas e as criadas. Eu próprio ao ler isto, (e agora pelas presentes condições de trabalho: eu e oito mulheres), relembrei-me de que sou o único homem de um dos lados da família na minha geração. Curiosidade que fez com que ano após ano, Verão após Verão, desempenhasse inconscientemente as funções de protector das minhas sete primas —trocando os pneus das bicicletas, refazendo o baloiço de corda da árvore ou oferecendo pancada aos outros miúdos que se metiam com elas.

Talvez por isto de ter sido o galo da capoeira num momento crucial da formação de carácter, uma década mais tarde uma namorada (psicóloga) teorizava sobre a envolvente emocional da minha infância. Perguntava-se (e a mim) se teria sido isso o que provocou em mim aquilo que ela cunhou de estado de machista. Eu, que nunca (depende como acordo) concordei com o termo, deixei-a sempre teorizar o que quis. É que por essa altura já tinha aprendido a lição: se queres viver em paz, nunca contraries uma mulher.