a escola de mulheres
Depois de ontem presenciarem a minha chegada a seguir ao almoço com uma caixa de sapatos de mulher —e de me terem feito mostrá-los e revelar-lhes que era um presente para essa noite— foi com espanto que hoje me viram chegar de manhã com a mesma caixa. Se as minhas colegas me conhecessem, e tal não acontece, poderiam até pensar que o momento dera para o torto, coisa comum, e que os sapatos voltariam para a loja e o dinheiro para o meu bolso. Por acaso não foi o que aconteceu. Contei-lhes que o pé não coube. Não coube? —perguntaram em coro— como assim? Não sabias o número? Sim, sabia; e expliquei-lhes que o soube através de uma discreta manobra mas que mesmo assim, com o número certo, o pé não coube. Pediram para ver os sapatos de novo. Então, segundo o que dificilmente apurei, as mulheres —ao contrário de um homem— nunca calçam o mesmo número. A biqueira, a inclinação do salto, se são sapatos ou botas, se são de pele ou de tecido, o fabricante e inclusivamente a altura do mês faz com que o número varie. Para mim, que sempre calcei o 45 e só conheço all-stars, chuteiras de râguebi e um par de sapatos ingleses, foi a descoberta de um mundo novo. Depois agradeci a lição e senti-me, uma vez mais, como o bronco do Arnolphe da 'Escola de Mulheres' do Molière.
Apenas quanto a sapatos, acrescento, pois de pés, e até pela quantidade de vezes que já levei com eles, percebo um bocado mais.
Apenas quanto a sapatos, acrescento, pois de pés, e até pela quantidade de vezes que já levei com eles, percebo um bocado mais.
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