everyman
Perguntou-me o que quis dizer com flexibilidade da condição humana. A resposta poderia ser dada com base num chavão intemporal — utilizando a sempiterna Humanidade como protagonista — mas também poderia ser fundamentada em experiências pessoais. Falei-lhe por isso de mim, ao invés de falar de outros, mas tendo a certeza que falando de mim estaria simultaneamente a falar de muitos mais. As experiências, embora de alguma forma únicas e pessoais, são também gerais e universais aos olhos dos tempos; ou da teoria de Lavoisier, pelo menos.
Assim, utilizando este conceito da flexibilidade da condição humana, refiria-me a como os golpes do Acaso (os maus e os bons) e as consequentes metamorfoses que eles provocam do ponto de vista físico, emocional, económico e social confrontam a capacidade humana de adaptação (uns mais do que outros) aos novos padrões, às novas regras, aos novos defeitos e até aos novos predicados. Esta flexibilidade é um reflexo do instinto de sobrevivência e é uma subliminar constante, quase inconsciente.
Se somos estóicos — e seremos? — por enfrentarmos a Vida & Morte, não é por um acto de coragem mas por ser a única opção. É-nos colocada de bandeja, a vida, com um prazo incerto, a morte. É este hiato temporal — o processo irreversível da infância para a velhice que marca desde logo o princípio do fim — no qual a condição humana varia. Num quadro imaginário podemos conceber as vidas dos outros: linhas serenas e predominantemente horizontais para uns, vertiginosas parábolas para os restantes; sendo estas linhas referentes à miséria e à fortuna, à saúde e à doença, ao amor e ao ódio.
Depois dei um exemplo: o meu, que almocei nos cinco estrelas e dormi num banco de jardim; que velejei no Hudson e dormi num banco de jardim; que tive garrafa no Tenjune e dormi num banco de jardim. Ao todo —acto que ofendeu os poucos amigos chegados— foram três as noites passadas num banco de jardim na cidade que nunca dorme. Mais do que nunca, foi nessa altura que me fixei nas palavras de Bukowski:
if you’re going to try, go all the way / otherwise, don’t even start.
Agora, passados largos meses, a minha reacção a tão aventuroso episódio é exactamente a mesma daqueles dias de Verão: nada de extraordinário, apenas um efeito da flexibilidade da condição humana; tão pouco um acto de miséria, de coragem ou de loucura. E volto a fazer tudo o que fiz antes de dormir num banco de jardim, sabendo que o banco de jardim, esse, estará lá sempre à minha espera.
Assim, utilizando este conceito da flexibilidade da condição humana, refiria-me a como os golpes do Acaso (os maus e os bons) e as consequentes metamorfoses que eles provocam do ponto de vista físico, emocional, económico e social confrontam a capacidade humana de adaptação (uns mais do que outros) aos novos padrões, às novas regras, aos novos defeitos e até aos novos predicados. Esta flexibilidade é um reflexo do instinto de sobrevivência e é uma subliminar constante, quase inconsciente.
Se somos estóicos — e seremos? — por enfrentarmos a Vida & Morte, não é por um acto de coragem mas por ser a única opção. É-nos colocada de bandeja, a vida, com um prazo incerto, a morte. É este hiato temporal — o processo irreversível da infância para a velhice que marca desde logo o princípio do fim — no qual a condição humana varia. Num quadro imaginário podemos conceber as vidas dos outros: linhas serenas e predominantemente horizontais para uns, vertiginosas parábolas para os restantes; sendo estas linhas referentes à miséria e à fortuna, à saúde e à doença, ao amor e ao ódio.
Depois dei um exemplo: o meu, que almocei nos cinco estrelas e dormi num banco de jardim; que velejei no Hudson e dormi num banco de jardim; que tive garrafa no Tenjune e dormi num banco de jardim. Ao todo —acto que ofendeu os poucos amigos chegados— foram três as noites passadas num banco de jardim na cidade que nunca dorme. Mais do que nunca, foi nessa altura que me fixei nas palavras de Bukowski:
if you’re going to try, go all the way / otherwise, don’t even start.
Agora, passados largos meses, a minha reacção a tão aventuroso episódio é exactamente a mesma daqueles dias de Verão: nada de extraordinário, apenas um efeito da flexibilidade da condição humana; tão pouco um acto de miséria, de coragem ou de loucura. E volto a fazer tudo o que fiz antes de dormir num banco de jardim, sabendo que o banco de jardim, esse, estará lá sempre à minha espera.
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