mais de 20 000
No edifício onde trabalho vive um senhor mais velho, por volta dos seus setentas, que é (ou foi) um conhecido crítico gastronómico do NY Times e de outras publicações. Neste edifício, uma antiga fábrica de têxteis dos anos trinta, as entradas para os diversos pisos fazem-se pelo elevador de carga cuja porta abre directamente, andar após andar, para amplos espaços agora recuperados a novos usos. Uma vez por outra, comigo lá dentro, o elevador pára no segundo andar para entrar a assistente com o cão do dito senhor. Nos escassos segundos em que o cão entra a olhar para mim e em que a senhora entra a refilar com o cão vejo confortavelmente uma pequena parte da casa. As janelas para a 17th Street invadem de luz a zona que é o seu local de trabalho. Geralmente ele encontra-se lá, sentado numa secretária metálica de costas para a porta, vestido de roupão de veludo rodeado por pilhas de papéis e revistas. A parede à sua frente está repleta de livros, do chão ao tecto, em prateleiras que começam ao lado da janela e continuam para fora dos meus reduzidos dez metros de raio visual. Um dia perguntei à assistente quantos seriam. Mais de 20 000, foi a resposta.
Fiz de seguida as contas.
Dá um livro por dia; durante todos os seus dias de homem adulto.
Fiz de seguida as contas.
Dá um livro por dia; durante todos os seus dias de homem adulto.
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