5.11.08

quando o mundo parou

Quando o mundo parou estava eu num boteco de emigrantes em Greenwich Village. Por seu turno, em Chicago, Obama pisava o palco e recebia a ovação dos milhares que estavam à sua frente; recebia também a ovação das dezenas que estavam à minha volta, a centenas de quilómetros de distância de si. Começou o discurso de vitória; agradeceu, em primeiro, enalteceu, em segundo, e prometeu, em terceiro. Foi um discurso firme, sentido, emocional. O momento era histórico e as palavras de Obama traziam aquilo que muitos estavam à espera há demasiado tempo — change and hope, o que quer que isso signifique. Por um momento recuei até à porta e espreitei a rua deserta e estática, um cenário irreconhecível da cidade que nunca dorme. Depois olhei à minha volta e não vi em toda aquela gente mais do que concentração, focagem; transe até, ou talvez. A voz de Obama trazida pelo televisor na parede hipnotizava todos os presentes. Por esta altura já não havia piadas, sussurros, desinteresse.

Lembrei-me então daqueles filmes em que o mundo pára em redor de uma notícia e é-nos mostrado o efeito global em suaves dolly shots com cores saturadas: uma família de agricultores no Arkansas em frente à televisão, um punhado de indianos à volta de um radio em Benares, uma multidão em África que escuta alguém que de megafone traduz a informação, um molho de gente num café de um qualquer vilarejo em Itália. Ontem — naqueles exactos minutos — foi um desses momentos em que o mundo parou; e mais uma vez a realidade superou a ficção.