os 400 metros
Percorri de novo aqueles quatrocentos metros. Os mesmos quatrocentos metros que calcorreámos na primeira madrugada do ano entre chuva e nevoeiro, entre gritos e insultos. Os quatrocentos metros do teu histerismo e do meu desespero; da tua fúria e da minha incapacidade; da tua fuga desmedida e do meu medo ao imaginar-te sozinha na noite deserta e perigosa de uma cidade estranha e distante. Revi mentalmente, passo a passo, cada expressão e cada frase, cada loucura e cada falta de tacto. De hoje em diante, nestes quatrocentos metros e na minha memória, ficarão para sempre as inesperadas e improváveis imagens sombrias que se sobrepõem agora a quaisquer outras que vivemos — como um trauma, como aquelas pessoas que um dia encontram um cadáver de alguém de quem gostam pendurado na sua sala de estar.
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