17.2.09

the girls we followed home

Há um poema de Charles Bukowski que incide sobre as meninas que um dia acompanhámos a casa. Facilmente compreendemos que o poema tem uma pujança particular remetendo o sujeito, neste caso o poeta, e o objecto, no caso de Bukowski sempre as mulheres, para a idade maior, a velhice. Mesmo assim, numa observação mais ampla, não deixará de ser igualmente um reflexo pluri-geracional. Porque se aos setenta as meninas que um dia acompanhámos a casa são agora as senhoras de cabelos brancos e bengalas ou de pantufas em lares de dia, aos trinta elas são as mães atarefadas, as profissionais responsáveis, as carreiristas de sucesso, as aborrecidas mulheres fiéis. E embora aos trinta continuem a mergulhar nas ondas de espuma branca ou a encher os corpos de óleo bronzeador, há algo de jovial que se perdeu nelas, que se perdeu na exigência das suas obrigações sociais. Por isso, aos 30 ou aos 70, as meninas que um dia acompanhámos a casa estão sempre e naturalmente algo mais maduras do que aos 20 estiveram; mais pesadas, menos aventurosas, mais cansadas. Progressiva e inevitavelmente.

No fundo tudo isto poderá ser perfeitamente normal, o ritmo da vida, chamam-lhe alguns, mas a força intrínseca desta constatação dá-se pelo efeito reflectivo do fenómeno: também nós, neste caso o sujeito, estamos mais maduros, mais pesados, menos aventurosos, mais cansados do que um dia no passado estivemos. De uma forma igualmente progressiva e inevitável. O tal ritmo da vida, dizia eu, que um certo complexo de imaturidade tende a renegar e que me leva, precisamente, a um excerto de outro poema do velho gaiteiro do costume:

[...] the others had become sedate, / had become responsible / citizens with / children, jobs, mortgages, / life insurance and pet /dogs. [...]