a midnight valium for a good night's sleep
Deviam ser por volta das cinco e meia da tarde quando passei por lá. Sendo Inverno, estava já escuro, mas a luz dos novos candeeiros era suficiente para iluminar o local. Cerca de sete anos passaram sem que eu cruzasse o dito sítio, fiz mentalmente as contas. Não por algum motivo em particular, apenas assim foi pois as geografias sentimentais e as urbanas andam interligadas, como as cartas de azar. Ao parar o meu carro no sinal encarnado, diante da passadeira, revi a história que um dia me contaste, passada talvez sete anos antes destes há sete anos atrás. Tu, ainda miúda, antes de mim e dos outros homens que estiveram antes de mim, de mochila às costas e com o ar inocente próprio das crianças que pensam já ser mulheres. A noite de Inverno, como esta, a chuva como a de ontem e uns candeeiros antigos e frouxos. Depois tu na passadeira, caída, desmaiada, o condutor que não te viu aos gritos a pedir ajuda, a poça de sangue, a perna dobrada numa posição impossível.
Revi tudo isto. Depois esforcei-me, mas o que eu não consegui rever foi o teu rosto.
Revi tudo isto. Depois esforcei-me, mas o que eu não consegui rever foi o teu rosto.
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