25.3.09

of young women and pets



'Au hasard Balthazar' (1966) é o filme mais terno que conheço do cineasta francês. Embora Bresson continue a explorar temas que lhe são queridos, como o «Acaso», o «sofrimento» ou a «provação», há paralelamente uma apologia à ternura que não encontrei nos seus filmes anteriores. Não é feita de uma forma visualmente gratuita, pelo simples afecto da jovem rapariga, Marie, perante o olhar passivo e melancólico do burro, Balthazar. É uma ternura mais profunda do que a física, mais emocional do que táctil. Marie entrega-se a esta pois Balthazar — ainda que uma metáfora de Bresson para o Acaso — representa igualmente a bondade e o altruísmo. Ele nada pede em troca; está apenas lá. Quando Balthazar começa o seu percurso errático de dono em dono, Marie vai da mesma forma descobrindo o mundo sozinha. O amor, o desprezo, a derrota, a ganância, a violência são-lhe dados a conhecer aos poucos por todos aqueles que a rodeiam. De igual maneira Balthazar vai percorrendo as variantes da espécie humana, da barbaridade ao oportunismo. No fundo, a bela e a besta são o mesmo, casuais vítimas da crueldade do Homem e do Destino. Marie sente em Balthazar o refúgio. É por isso uma ternura diferente.