das mulheres de naruse
Ao deparar-me com este fotograma de um filme de Mikio Naruse noto o quanto ele pode ser sinóptico da sua obra. O universo do cineasta japonês tem como núcleo de gravidade a figura feminina. E aqui, vendo-a sozinha num local íngreme e algo claustrofóbico, relacionamos a espacialidade como uma metáfora para outras realidades por si exploradas: emocional e social. O mundo das heroínas de Naruse, como o de todas as outras, não é fácil. Movimentam-se entre uma certa rigidez cultural e o desejo de mudança numa sociedade que carrega o trauma do pós-guerra. Os homens que as rodeiam são na sua maioria figuras moralmente fracas e derrotadas, despojos de uma guerra perdida, mas que não deixam de exercer a tradicional influência da «superioridade masculina». Naruse opõe-se ao lugar comum e as suas mulheres reagem, reivindicam, lutam. Procuram a independência aliada a uma contemporaneidade de costumes, mais justa e imparcial. Os homens bons são os que compreendem e facilitam esta liberdade e justiça. O cinema de Naruse pode assim ser visto como um manifesto da emancipação feminina; não de uma forma violenta ou ruidosa, mas sim discreta, sentimental e romântica. No fundo, no Japão do pós-guerra ou nos dias de hoje, continua a existir uma actualidade nas suas personagens de uma classe média universal. As heroínas de Naruse não deixam de ser em alguns pontos muitas das mulheres do século XXI. Talvez por isso ele seja tão apreciado pelo sexo feminino.
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