God says: thou shalt live together on the eleventh day
Conhecemo-nos num sábado à noite, convém lembrar-te, num terraço com vista para o Empire State Building. Vinhas de preto e branco e despertaste o meu interesse ainda de muito longe, quando não eras mais do que uma mancha no meio de todos aqueles desconhecidos. Eras recém-chegada e eu falei-te da América. Nessa mesma noite, depois de deixar-te no táxi e vê-lo subir a Quinta Avenida deserta, regressei a pé à pensão chinesa, abrigo temporário de uma outra crise, para que o momento continuasse ininterruptamente e visse nascer o sol detrás dos edifícios de tijolo do sujo bairro de Chinatown. Eu estava de partida da cidade, lembras-te? Queria regressar de barco, de cargueiro, numa viagem que segundo o que me explicaram demoraria duas a seis semanas. Foi exactamente na mesma tarde em que fui ao porto de Elisabeth Town que perdi o meu telemóvel com o teu número. Dias depois disse-te que afinal ficava, explicando-te o porquê da impossibilidade de partir. Saltaste para o meu colo, em êxtase, numa esquina da Sexta Avenida ao cair da noite. Manifestaste receio pelo facto de nesses dias eu dormir numa espelunca e foi num restaurante nas suas imediações que decidimos seguir a nossa própria e mitómana profecia bíblica, indo viver juntos, ao undécimo dia, para Williamsburg. As semanas correram como flechas, a chuva de Verão chegou à cidade e o meu visto de doze meses ao fim. Fui de viagem ao Canadá sem saber se voltava. Despedimo-nos nessa noite como se fosse a última mas acabei por regressar, desafiando o sistema e a minha própria clandestinidade, resultado de um momento de introspecção. Depois os dias acumularam-se em descobertas a dois e esperas solitárias e quando demos por nós estávamos já em Setembro. Fotografei-te no nosso local favorito ao pôr-do-sol. Tivemos a primeira briga e ofereci-te o primeiro presente. Quando o Obama ganhou, o mundo parou e nós com ele. Brigámos uma segunda vez, fomos ao teatro de táxi e jantámos em casa de uma amiga no Dia das Graças. Chegou Dezembro, os enfeites natalícios e a neve, deixando a cidade como uma paisagem perfeita de um bilhete-postal.
We'll always have New York.
We'll always have New York.
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