16.12.09

um modelo para dois continentes

Por onde foi, o reencontro com tão particular imagética não poderia ser mais improvável. Exactamente a mesma que fotografei meses como sendo única — e que em parte o é — e cuja identidade reside nos pequenos ícones da banalidade. São assim muitos subúrbios norte-americanos: vulgares, patrióticos e consumistas; desiludidos. Podemos dizer que a construção de esta paisagem específica nasceu por lá — America, I mean — e o que encontramos hoje são derivados seus. Não me refiro à paisagem catalogada por Venturi e Ruscha, povoada de mimetismos, nem tão-pouco à de Sternfeld ou de Ormerod, que acaba em muitos pontos por ser a mesma de Cheever e Yates. Refiro-me a uma outra, mais periférica, suja, industrial, dolorosa, derrotada e remotamente festiva: a de Carver e de Graham. Não poderia ser mais improvável, dizia eu, porque bastou-me afastar-me um pouco para encontrá-la. A identidade global actual está naquele que é o espaço intersticial comum a todas as civilizações contemporâneas: a cintura urbana. Nem cidade, nem campo; nem carne, nem peixe. Agora, de máquina na mão, vou novamente ao seu encontro. Como se não existissem 5.400 km de distância entre uma coisa e outra. Entre um original e um sucedâneo.