6.2.10

a midnight valium for a good night's sleep

A primeira vez que tomei contacto com os versos de Arthur Symons (1865-1945), the gas-light poet, foi no final da adolescência através do 'Lobo do Mar' de Jack London, pela colecção de bolso Europa-América. A um dado momento, van Weyden, o escritor-náufrago feito refém, exclama o seu amor pela também náufraga e poetisa Maud Brewster. As palavras de Symons, conta-nos, vieram-lhe à cabeça quando a conheceu — e transcreve-as. Essa frase de Symons ficou na minha memória e serviu-me de muleta nos anos que se seguiram — os anos da pretensa sedução nocturna própria da idade. Usei-a ao ponto de deixar de fazer sentido, de não ser mais do que uma articulação fonética que procurava provocar uma qualquer reacção. O princípio da idade adulta passou e eu deixei de proferi-la, ganhando juízo e refinando o gosto. Mais tarde voltei a ela apenas uma vez, acreditando plenamente que faria sentido. Mas soou-me oca e pirosa; e meses depois revelou-se apócrifa. Foi então que deixei de acreditar nas palavras ditas. Todas as combinações me pareciam chavões; ou pior: pregões. Tornei-me aos poucos num homem calado, preferindo as acções às palavras, os gestos aos sons, as insinuações às declarações. Foi a pesada herança de um provocado descrédito. Que me tornou em Sísifo, carregando às costas para a Eternidade uma suposta máscara de desafectação. Mea culpa, unicamente. Ou de Symons, desculpo-me por vezes.