15.3.10

the seven lifes of carson mccullers

De uma forma geral, poderá dizer-se que a vida de Carson McCullers (1917-1967) foi marcada por uma saúde instável e periclitante; por uma sobrevivência arrancada aos múltiplos problemas físicos que lhe apareceram e às suas consequentes complicações. Febre reumática aos quinze anos, pneumonia e a primeira trombose aos vinte e cinco. Teve ainda duas outras antes dos trinta, da qual a última lhe paralisou o braço esquerdo para o resto da vida. Aos quarenta e cinco foi-lhe diagnosticado um cancro da mama e sofreu uma mastectomia. Morreu cinco anos depois, vítima de hemorragia cerebral, derivada de uma trombose final. Perante estes factos, não é difícil perceber que McCullers teve presente ao longo da sua vida a consciência da fragilidade da condição humana.
Muito jovem, aos dezoito, migrou da esfera conservadora do sul para Nova Iorque onde viria a conhecer James Reeves McCullers, o seu marido. Mais tarde experiencia com ele, por uns breves anos, a vida na Carolina do Norte e posteriormente as boémias nova-iorquina, onde regressa sempre, e parisiense, depois da Segunda Guerra Mundial. Foi neste cenário que evoluiu enquanto mulher e autora. Curiosamente, 'The Heart is a Lonely Hunter' (1940), a sua obra mais celebrada, foi escrita por uma Carson muito jovem e de certo modo longínqua da mulher que ela viria a ser. Talvez por isso, agora com a leitura a meio, o que me continue a interessar mais no livro (ou pelo menos nesta edição Modern Classics da Penguin) são as breves páginas que antecedem o romance. As breves páginas que contêm a cronologia de Carson McCullers e das suas sete vidas e nas quais a realidade supera claramente a ficção.