'L'air de Paris' (1954), de Marcel Carné
Marcel Carné, nos anos 1950, filmou o ar de Paris nas ruas ao longo do Sena, nos bares de Les Halles, nos quartiers típicos, nos encontros entre aristocratas e operários e nas tardes de boxe na Central. Filmou também as aspirações e os sonhos de um velho campeão projectados num homem novo e com potencial; um vadio sem rumo. Nesse ambiente —ou um outro ar de Paris— de ginásio carregado a cheiro de suor frio e âmbar gasto, a relação entre mestre e aprendiz é explorada com cargas de paternalismo e rebeldia onde as mulheres de ambos funcionam como pontos de equilíbrio opostos. Sente-se igualmente uma ode à fraternidade masculina. Ambígua, não pela prática típica e o contacto físico que um desporto como o boxe exige mas pelo olhar de Carné. Roland Lesaffre, interpretando o jovem atleta, vê a sua personagem ganhar relevo e protagonismo ao longo da narrativa. Gabin irrita-se e no final das filmagens cessa a sua colaboração com o realizador. Compreenda-se: é que de homoerotismos, Carné era adepto, Gabin nem por isso.
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