detalhe de um acto de desespero
Crono (ou Saturno, na versão latina) fora avisado: um dos filhos cresceria e acabaria por derrotá-lo. Por pavor, o titã comeu-os um a um. Excepto Zeus, que ajudado pelo destino, pelos Ciclopes e pelos irmãos —mais tarde regurgitados por Crono— veio a cumprir a profecia. Olhando para a expressão no seu rosto, apercebemo-nos que Goya compreendeu Crono. O seu olhar não é de cólera ou de ódio, (como em Rubens cerca de 150 anos antes), sugestivo da violência e crueldade do acto. Sobressai nele antes o desespero e o temor. Apesar de o sabermos capaz de barbaridades como a mutilação genital do pai, Crono não mata aqui os seus por dá cá aquela palha. Antes julga salvar-se dominado por um instintivo e hediondo sentimento de sobrevivência. Nele, como em muitos outros, o medo é superior ao amor. Geralmente isso dá merda.
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