30.9.10

the importance of being earnest

Se há coisa habitual na blogosfera é alguém copiar para o seu blogue o que outros escreveram e depois colocar um link para o post do autor original. Num possível código deontológico cibernético isto poderá ser chamado de citação. Correcto, normalíssimo, so far so good, todos em respeito e sintonia. Mas depois há um outro tipo de cópia: aquela em que fulano, beltrano e sicrano copiam textos —especialmente aforismos mas não só— e os postam nos seus blogues, chegando por vezes a inserir pequenas alterações de modo a adaptá-los a si, sem referência alguma ao original. Como se fossem seus. Como se fossem eles os autores daquelas exactas palavras, daqueles mesmos ódios e paixões, gostos e desgostos. Ao longo destes anos de blogosfera tenho apanhado —por casualidade ou por denúncia— um ou outro artista do fananço de textos alheios. Um mal menor, um dano colateral — não da internet e das suas falhas mas sim da comédia humana, onde sempre haverá falsidade e mediocridade. Na sua grande maioria e em dias de boa disposição, estas situações até podem ser vistas de um prisma onde a cópia-roubo é mais elogiosa do que insultuosa. Indiferente. Contudo, a benevolência não pode ser sempre esperada se o gamanço for feito de uma forma constante e descarada. Mas isto não quer dizer que haja igualmente um castigo. O poder regulador é apenas a consciência de cada um.

20.9.10

asian

ºfotograma de 'Hiroshima mon Amour', de Alain Resnais

Para elas.

the importance of being bogart

Yvonne: Where were you last night?
Rick: That's so long ago, I don't remember.
Yvonne: Will I see you tonight?
Rick: I never make plans that far ahead.

16.9.10

como o Verão de '93

Passou na sua vida como o Verão de '93: algo breve, muito quente e completamente insuportável.

12.9.10

outra linha para Chabrol

Stephane Audran e Jacqueline Sassard em 'Les Biches' (1968), de Claude Chabrol

Porque misturou «noir» com «milf», «lesbian» e «barely legal» como ninguém.

uma linha para Chabrol

Morreu Claude Chabrol, o mestre da noirmalidade.

eram os anos noventa

A noite de ontem, entre a saudosista invenção a que chamaram nineties party e uma cena de pancadaria na qual tentei um indefensável mata-leão, levou-me —nas minhas palavras— de volta para a adolescência. Contudo, um amigo de longa data corrigiu-me cinicamente frisando que eu nunca saíra da adolescência. Um engano, os anos pesam e passam. Mais ou menos adolescente ou não, a verdade é que nunca me cansei tanto ao aplicar um mata-leão.

7.9.10

i'm saying it now, for all the years we'll have to wait

Apavorada, Dominique pede a Roark que renegue a sua arte, que se entregue a um emprego insignificante, que fujam juntos para uma cidade pequena. Roark diz-lhe que não. Que ela se vá embora, que aprenda a não ter medo do mundo, que ele a deixará partir e estará um dia à sua espera quando ela o tiver conseguido. E diz-lhe uma vez que a ama, uma vez por todos os anos que terão de esperar. Dominique, caindo-lhe nos braços num beijo apaixonado, responde-lhe num lamento que fará qualquer coisa para escapar dele; da sua paixão magnética. Qualquer coisa, repito as suas palavras na minha cabeça, ouvindo-as ali, na velha sala da Cinemateca, horas depois de as ter ouvido da tua boca enquanto subíamos a Avenida nocturna no princípio das chuvas do final do Verão. Eu sei que sempre fui ele. Hoje pareceu-me que ela és tu.

insomnia, 1994

Insomnia 1994,Transparency in lightbox 1722 x 2135 mm, Hamburger Kunsthalle, Hamburg, Cinematographic photograph, © Jeff Wall

Apropriada. Talvez pelo título, talvez pela hora. Talvez por outra coisa qualquer.

6.9.10

desperate days

Aquilo que inicialmente mais a atraiu tornou-se depois no que mais a desesperou. Mas por tal nunca houve problemas. Numa mulher como ela o desespero é igualmente uma forma de atracção.

4.9.10

give me your best shot

Disse que saberia exactamente como ofendê-lo —se quisesse— e ele, sem medos ou temores, pediu-lhe então que ela desse o seu melhor. Na verborreia, aparentemente calculada, saiu-lhe erradamente o adjectivo «altruísta». Ele, altivo, agradeceu-lhe a sinceridade — o lapso. De facto, ele sempre a ajudara sem olhar a consequências. Só depois compreendeu que ela tinha razão. Fazê-lo fora um enorme defeito. Uma «fraqueza», ajudar quem tanto tudo despreza e repudia.