8.10.10

ontem

De carro, sozinho, numa viagem elíptica e nocturna pela cidade da minha memória, abandonada entre o vento e a chuva, repleta de aberturas, jogos de volumes, estreitas ruas de calçada ontem molhadas e escuras, medieval. A cidade que Chirico poderia ter pintado, igualmente seca, pastelosa e carregada de nostalgia derretida em tarde desertas de Verão. Solitária, quando quer, e esguia como uma mulher que se esconde e nos baralha. Por cá estou, há oito dias, sem saber bem porquê, não tendo fundamento ou desculpa, certeza ou vontade, apenas fazendo-o sem agir, sem pensar. Talvez o refúgio entre família e amigos, desses de sempre, de infância. Talvez o chamado descanso do guerreiro antes da próxima partida. De novo, não falta muito. Nem dez dias para me pirar.