25.10.10

slouching towards something

Escolho com calma, como um ritual do género sempre pede, o primeiro livro a comprar nesta terceira aventure americaine. Prefiro a todos os restantes uma nova edição de poemas inéditos —pois da sua prosa não sou de todo grande adepto— do senhor do costume. Bukowski foi um bêbado, ordinário, mulherengo, machista, corrécio, irresponsável e putanheiro. Não é, por isso, autor que possa ser apreciado por gente decente e de bom gosto literário, pois as suas qualidades aparentemente não são extraordinárias e os seus textos não têm qualquer motivação intelectual. Não é tendencialmente autor para mulheres, pelas razões óbvias, mas tão-pouco para homens de secretária, de fato e gravata ou lenço, burgueses, académicos ou puristas. Em contrapartida, cai facilmente no goto de jovens niilistas que erradamente apenas vêem nele uma postura de conflito. Bukowski é bem mais complexo do que estas duas aproximações. Há de facto nele um sentido de luta com a vida, com ele próprio e com os demais mas há da mesma forma uma sensibilidade emocional mascarada de desilusão e desprezo. Reconheço nele a vulgaridade de Mickey Spillane, o desapontamento obscuro de Patrick Hamilton, a crueldade abjecta de Céline e algo da acidez de H. L. Mencken. Gostar de Bukowski, no meu caso, surge por empatia. Como não poderia deixar de ser.