2.11.10

true west

Na introdução à compilação de sete peças de Sam Shepard, o crítico Richard Gilman reconhece no teatro do norte-americano influências do realista Jack Gelber, iniciais, ou as posteriores dos britânicos Harold Pinter e Edward Bond — eu acrescentaria Eugene O'Neill. Refere ainda que o trabalho de Shepard, enquanto dramaturgo, foi rotulado de «poderoso», «sinistro», «gótico», «surrealista». Em 'True West', a peça que Gilman diz ser a menos típica de Shepard, encontram-se — à partida — elementos mais mundanos do que os que caracterizam a generalidade do seu trabalho: um encontro entre irmãos, adultos, em casa da mãe que está ausente em férias. Porém, no desenrolar da acção, a tensão cresce a par e passo com um ar de ameaça latente, culminando num acto violento e fratricida. Neste percurso em nove cenas, Shepard ilustra uma paisagem doméstica contemporânea, desiludida e perdida, análoga de uma outra paisagem: o American Dream. É neste ponto que reconheço a maior de todas as influências em Shepard: a sua geração. As questões de estilo, pausa ou diálogo, perante isto, são claramente menores. Em 'True West', quanto mais não seja.