aftermath
A cidade está lentamente a recuperar da tempestade de neve. Ruas e passeios continuam intransitáveis, automóveis bloqueados, transportes públicos com serviço muito reduzido. No rescaldo partilham-se as histórias do nevão: famílias separadas, passageiros retidos horas a fio, estragos e prejuízos de muitos que fizeram o lucro de poucos. Está latente um cansaço generalizado, pós-orgíaco. Não se sente uma extraordinária energia colectiva e comunitária na recuperação da normalidade. Um nevão não é um ataque terrorista, nem uma forte causa social, nem uma nova realidade política, nem mesmo um cataclismo raro e por isso digno de nota. É apenas algo que acontece de vez em quando, um dado adquirido. Como tal cada um trata do seu pedaço devagar, sem grande entusiasmo, deixando o sol, o calor ou outra coisa qualquer chegar para normalizar as suas vidas. Neste cenário, e perante as dificuldades das equipas de remoção, o Mayor pede paciência, mas é precisamente paciência o que menos se nota nas pessoas. Com carruagens de metro cheias e morosas, autocarros desactivados, filas intermináveis nos supermercados, o nível de irritação encontra-se acima da média. Todos irritam, todos se irritam, tudo dispara ao mais leve sinal. Desculpo assim com a envolvente a tua fuga drástica e repentina de mim no cruzamento uptown. Afinal não és super-mulher; és apenas de carne e osso. Like everybody else.
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