19.2.11

sena, o deleuziano

«Éramos nós, por sermos sempre outros, outros que não seriam imagens mal interpretadas de nós mesmos, mas outros, os outros que virtualmente eram as janelas que as outras pessoas têm para reconhecer-se, por identificação virtual, umas às outras e a nós. Somos nós, na medida em somos os outros delas. E é isso que nos impede de, sendo nós em nós mesmos, não sermos inteiramente livres. O corpo absoluto não está, todavia, isento de ser destruído. A virtualidade absoluta, com a qual podemos sobreviver nos outros, também não.»
in 'Sinais de Fogo', pag. 373.

Ao longo do romance de Jorge de Sena há uma constante obsessão do narrador sobre o efeito que exercemos uns nos outros —no destino, no carácter ou em ambos—, o reflexo dos outros em nós e, ainda, de que «nós» também somos os «outros». Combinações de tudo o que somos e poderíamos ser num jogo virtual de espelhos, influências e distorções. 'Sinais de Fogo', ou o tal mundo de possibilidades deleuziano.