o delíquio da ausência
Regressado do Kuwait, a passagem por Lisboa e por ti foi breve, amarga e licorosa. Agora, outra vez de volta a esta cidade da qual de alguma forma nunca saio, vejo-te a meu lado em tudo o que faço e que fazíamos, em todas as ruas que percorro e que percorríamos. Revejo-te à minha espera na esquina depois das aulas com o teu sorriso inocente e feliz. Quero-te outra vez aqui, mesmo sabendo que contigo e que com o teu amor / um dia fomos maiores do que a vida, pendurámo-nos em nós próprios e corremos um mundo interior e desconhecido / paixão / fomos, dissemo-lo, os «possíveis aventureiros» e como Dédalo e Ícaro fugimos do labirinto impossível / ternura / os teus braços de calor, o meu corpo sólido de rochedo / chegará também uma quota-parte de fúria / fuga / queda / e na qual as tuas asas de cera derreterão pela surdez causada pela barreira da nossa incomunicabilidade. O que quer que seja, vem, e reza comigo ao meu deus pagão.
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