twenty four hours tracking irene
Sábado, 9.22: O furacão é amplamente comentado; estranhos trocam graçolas, confidências e receios. Os loucos anunciam o fim; numa longa linhagem histórica onde todos os outros loucos o têm anunciado antes deles.
Sábado 12.34: Aquilo a que assisto na cidade é algo novo. As prateleiras nos supermercados esvaziam à mesma velocidade que o furacão se aproxima. Água, pão, velas, lanternas, pilhas são os primeiros itens a esgotar por todo o lado. Cria-se o ultra-abrigo — no círculo privado do nosso próprio medo.
Sábado 13.43: Seguimos o protocolo; e estando na zona de evacuação B preparamos os detalhes para o caso do aviso chegar. Virilio prevê o cenário no seu 'Futurism of the Instant': todos seremos refugiados no Futuro. Sempre me pareceu que já o seria no Presente.
Sábado 15.39: Percorro de bicicleta as duas últimas horas antes do momento crítico para recolher. A liberdade antes da catástrofe.
Sábado 17.25: Coloco tardiamente umas placas de madeira a proteger o vidro das minhas janelas. A chuva é agora intensa e o vento forte. O meu castigo pela Preguiça.
Sábado 19.33: As notícias relatam os estragos iniciais ao longo da Carolina do Norte, a sul. O impacto com a cidade prevê-se para as próximas horas. Espero noite dentro. Espero. Como naquela angústia sem fim no 'Deserto dos Tártaros' de Buzzati.
Domingo 2.12: Há vento e muita chuva. Nada mais do que isso. Nem ninguém.
Domingo 9.22: Acordo e pelos estores reconheço a normalidade lá fora. Vou sair. Por aqui o furacão chegou ao fim.
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