28.8.11

twenty four hours tracking irene

Sábado, 9.22: O furacão é amplamente comentado; estranhos trocam graçolas, confidências e receios. Os loucos anunciam o fim; numa longa linhagem histórica onde todos os outros loucos o têm anunciado antes deles. 

Sábado 12.34: Aquilo a que assisto na cidade é algo novo. As prateleiras nos supermercados esvaziam à mesma velocidade que o furacão se aproxima. Água, pão, velas, lanternas, pilhas são os primeiros itens a esgotar por todo o lado. Cria-se o ultra-abrigo — no círculo privado do nosso próprio medo. 

Sábado 13.43: Seguimos o protocolo; e estando na zona de evacuação B preparamos os detalhes para o caso do aviso chegar. Virilio prevê o cenário no seu 'Futurism of the Instant': todos seremos refugiados no Futuro. Sempre me pareceu que já o seria no Presente.

Sábado 15.39: Percorro de bicicleta as duas últimas horas antes do momento crítico para recolher. A liberdade antes da catástrofe.

Sábado 17.25: Coloco tardiamente umas placas de madeira a proteger o vidro das minhas janelas. A chuva é agora intensa e o vento forte. O meu castigo pela Preguiça.

Sábado 19.33: As notícias relatam os estragos iniciais ao longo da Carolina do Norte, a sul. O impacto com a cidade prevê-se para as próximas horas. Espero noite dentro. Espero. Como naquela angústia sem fim no 'Deserto dos Tártaros' de Buzzati.

Domingo 2.12: Há vento e muita chuva. Nada mais do que isso. Nem ninguém.

Domingo 9.22: Acordo e pelos estores reconheço a normalidade lá fora. Vou sair. Por aqui o furacão chegou ao fim.