10.12.11

the battle of love

A vida amorosa de Alma Mahler deu corpo a inúmeros comentários durante mais de meio século. O pintor austríaco Oskar Kokoschka experimentou com ela todos os estádios da «paixão». Começou com amor à primeira vista numa soirée cultural vienense e terminou numa decapitação simbólica a evocar grotescos rituais pagãos. Nesse espaço de tempo, cerca de três anos e nos quais lhe escreveria mais de quatrocentas cartas de amor, Kokoschka desenhou e pintou Alma da mesma maneira obsessiva com que a possuiu. O traço expressionista das suas telas deixa antever a intensidade frenética passada no leito dos amantes. Em 'Noiva do Vento' (1913) o pintor enfatiza a tormenta que é a vida fora do círculo de Alma, simultaneamente musa e único reduto possível de quietude. Sobre ele, Alma disse que o que passaram juntos foi uma batalha de amor, que nunca antes disso tinha provado tanto Inferno como tanto Paraíso. Com o tempo, o lado ciumento de Kokoschka começou a pesar mais do que o seu lado libidinoso e Alma cansou-se. Forçou o afastamento provocando Kokoschka pela sua cobardia, por ainda não se ter voluntariado para a guerra que assolava a Europa. Igualmente aconselhado pelo seu amigo Adolf Loos, Kokoschka partiu e foi gravemente ferido, apenas para descobrir no regresso a relação de Alma com Gropius. No desespero pela perda irreversível, Kokoschka encomendou uma boneca em tamanho real que possuísse as mesmas características físicas de Alma. Quando finalmente chegou mostrou-se deficiente para o seu maior propósito original. Sem utilidade para o consolo de alcova, Kokoschka organizou uma festa que culminou com a decapitação da figura regada com vinho tinto. A catarse do estado de alma (e Alma) e a cauterização de uma cicatriz que ficaria para toda a vida. Comparado com Kokoschka, o lunático da 'Sonata a Kreutzer' do Tolstoy parece um menino.