10.1.12

new year's eve

Foi pelas onze da noite, quando ainda estava na lavandaria à espera que o secador de roupa terminasse, que vi pelos néones da montra passar o carro lá fora. Uma fracção de segundos. Um vulto de um homem ao volante. Ao seu lado, na fraca luz do habitáculo, uma mulher pintava os lábios com a ajuda do espelho do pára-sol. Tinha um ar concentrado e distante. Uma acção banal, repetida no quotidiano. Um fotograma de uma cena doméstica, urbana, comum que antecipa a «festa», o «evento social» e que em mim nada mais ilustrou do que um possível momento antes da desgraça; de um acidente, de uma desfiguração. Onde os outros vêem diversão unicamente antevejo tragédia. Uma tragédia em si, isto, também.